sexta-feira, 28 de junho de 2013

A LOUCA PAIXÃO

Sempre que ouvia o termo paixão, eu me remetia a coisas lindas. Anos mais tarde, percebi que ele está mais ligado a sofrimento que nunca.

E essa é uma dessas histórias em que a loucura se associa ao fato. A menina caiu doente por causa do rapaz. Não há explicação porque não existe, ama-se e apaixona-se pela mesma razão que olha para o lado esquerdo num quarto escuro.

A timidez poderia ser um empecilho, mas quando o coração berra, todos os lados se calam, incluindo o bom-senso, a noção de respeito e a sensação de bem-estar. O estar apaixonado é nada bom, é tudo ruim. A boca seca, a fala some, a alvo é perfeito.

Trabalhavam na mesma empresa, e, ainda que os setores fossem diferentes, e os andares também, o elevador tornava-se o único elo entre eles. Nunca se falaram, apenas o sorriso sincero de agradecimento por segurar a porta de entrada do setor e os bons-dias diários bastaram para aquela mulher se ver nua e perdida.

Começou a aparecer mais produzida. Gastava tubos de dinheiro nos melhores salões da Paulista. Recebia assovios de todos os lados, menos do certo. Ok, convenhamos, que ela era algo morno e, mesmo que todos os produtos da Mack fossem aplicados nela, ela passava de chuchu a chuchu com molho rosé.

Roupas caras e, em anos, o primeiro uso do cheque especial. Talvez o investimento fosse mias pesado. E começou a aumentar o limite do cartão, e começou a usá-lo, e começou a abusar dele. 40 dias depois, sua dívida mensal, que não chegava a 3 mil reais em tudo, passava dos 25. E conseguiu um sorriso franco do rapaz.

Sentiu-se desejada. Escapava para o banheiro várias vezes e se imaginava derrubando portas e rolos de papel. Quase dois meses, tomou coragem e mandou um email. Começou suave e se identificou.

Ele respondeu. Ok, não foi com um beijo de despedida, mas um abraço. Oras e tudo começa com um abraço. Decidiu mandar o segundo e foi mais ousada. A resposta demorou dois dias e veio com um gentil “obrigado” e nada mais.

Ela viu-se certa de que bastaria algo mais ousado. Revelou-se e revelou o sonho do banheiro da empresa. Dois dias, três, uma semana e nada. Tentou uma segunda vez. Nada, uma terceira. Na  quarta, leu um “melhor focarmos em nossas carreiras”. Um grito sôfrego a fez berrar, sorte às 22h a seção estar deserta.

Ficou louca. Mandava emails pedindo uma chance e nada. Nunca mais o vira de modo natural. Sentiu que ele fugira toda vez que a via. Forçava encontros e percebeu que ele a evitava. Começou a descumprir prazos. Começou a sumir por horas, esperando vê-lo ou apenas espreitando-o 5 andares abaixo.

Expôs-se, deixou-se fácil. Não aparecia em reuniões. Estava cada vez mais entregue, linda, endividada e no inferno. E realmente ficou quando a demissão chegou. Chorou como nunca e não pôde crer quando soube que o mundo sabia de sua paixão. Inconformada, demitida e seca, beirou a loucura, quando mandou os supostos emails falsos do rapaz, que era casado e bem casado

Juras de amor não cumpridas, perseguições descabidas, coações emocionais. Ela creu nisso e voltou decidida a reaver o emprego e colocar sua paixão pra fora. Sim. Ela voltaria e ele sumiria, perfeito. Nada como a justiça dos loucos.

E assim o fez. Mandou as 15 longas e bem cuidadas promessas de amor em aberto. Lugares divididos, beijados ou invadidos – aos cuidados do superior dele e dela.

Como resposta, viu-se ameaçada por danos morais, pelo advogado dele. Quase enlouqueceu quando leu o email, principalmente quando foi ameaçada de ter as fotos íntimas tiradas no banheiro da empresa reveladas numa rede social.

Não havia mais nada a ser feito, abriu a janela e se atirou. E ainda não sabe se o remorso do rapaz ficou aceso ou se realmente as fotos dela seriam reveladas...

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