sábado, 15 de junho de 2013

O EXORCISMO DE 1993

Geralmente, o primeiro ídolo de uma criança acaba sendo seu pai. Normal o pimpolho olhar pra cima e ver que aquele cara tem poderes fenomenais, que sabe trocar lâmpadas, pneus de carros etc.

Devo confessar que isso não ocorreu no meu caso, não porque o velho Ary não fosse de trocar lâmpadas, acontece que havia alguém muito próximo a mim que acabou sendo meu ídolo por muito tempo. O cara era 4 anos mais velho, tinha e tem irritantes olhos azuis - o que me causou inveja por anos, inteligência aguçada e foi assunto em vários textos aqui em meu blog.

Conheci muitas pessoas brilhantes e que me influenciaram os gostos que tenho nessa vida, mas ninguém tão próximo e que dormisse no quarto ao lado. Marcelo Paciello acabou sendo mais que isso. Cazzo, o cara me apresentou o rock'n'roll, o cara me ensinou a torcer pelo Palmeiras.

E quando falo ensinar a torcer pelo Palmeiras é saber que as derrotas seriam muito doídas, mas, como diria um amigo, "palmeirense sempre é cascudo". Ele dizia, eu aceitava. Ele ensinava, eu falava amém. Poxa, e não era qualquer um, era o Atum, da 8a. série, o melhor goleiro de Handebol de 1983.

O cara que teve o ingresso rasgado pela minha mãe - confesso que isso deve doer muito nele, porque em mim ainda está vivo - de um show do Kiss. O cara que assistiu ao show do Van Halen, em 1983, de perto. Ele merecia meu respeito.

Ouvia seus comentários sobre futebol e música e ia anotando. Aprendendo.  Nunca conheci alguém tão fanático e apaixonado pelo Palmeiras. Eu o vi chorar de alegria, de tristeza. Eu o vi derrubar carros de raiva e provocar tempestades de felicidade.

E agora ele consegue registrar tudo o que vivenciou até hoje, todas as suas paixões num livro, era o que faltava. Não porque é meu irmão e por tudo que representa a mim, mas a obra é fenomenal. Conta os dias de dor, os dias de aprendizado, de crescimento, de redenção até o primeiro grito de "É campeão!".

Naquele dia, 12 de junho de 1993, não pude estar ao lado dos meus irmãos naquela final. fazia parte de uma peça infantil, cuja apresentação era aos sábados e domingos e me podaram de ver quão alucinados eles devem ter ficado. Nós três sofremos juntos por várias vezes, sofremos separados dessa vez.

Olhando para trás, percebo que essas duas paixões, o rock'n'roll e o Palmeiras, foram o principal elo entre os irmãos Paciello. Meu pai deve ver orgulhoso lá do céu os três filhos que teve. E, se foi ele quem ensinou o primogênito a amar o Palmeiras, hoje, especialmente, mais orgulhoso ainda de saber que o Marcelo materializou uma paixão toda em mais de 230 páginas.

Tive a honra de ler tudo antes da publicação. Mais que isso, tive a honra de ver de perto quase tudo o que as linhas trazem. Porém o que mais me dói não foi ter ficado de fora daquele jogo, foi a idiotice de não ter abraçado os dois naquela tarde fria de junho.

Lembro que saí correndo sozinho pelas ruas frias de São Paulo, voltando pra casa, comemorando sozinho aquela alegria inteira. Do metrô, via os fogos, meu time era campeão, eu via isso pela primeira vez e - por uma coisa chamada responsabilidade - tive dessa vez de chorar sozinho.

20 anos depois, eu e meu gêmeo corremos mais uma vez ao nosso professor, se não para comemorar o gol de pênalti do Evair naquela prorrogação, mas para algo ainda maior: Marcelo Paciello, eu o saúdo, parabéns pelo livro!

Você me ensinou que ser palmeirense, decididamente, é muito rock'n'roll!

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