segunda-feira, 6 de maio de 2013

SANTA VOVÓ SANTA!

Muito fácil de identificar a caricatura: não perdia uma missa, cara de vovó – modelo de quem faz bolo da fazenda – dava água aos pedintes e comida aos famintos, sempre devolvia as bolas caídas no jardim, mesmo estragando as flores, as melhores prendas à igreja vinham dela, uma santa.

O nome não nos é importante. Importante mesmo é saber que todos queriam aquela senhora como avó, mãe, sogra etc. Por anda andava, dava para se ouvirem os anjos, em mi bemol, entoando em uníssono a santidade em pessoa.

Não teve filhos, não casou ou sequer namorou, dedicou sua vida ao voluntariado e à caridade. Santa.

Fato é que ela começou a liderar – faltava isso para o currículo em prol de sua canonização – uma campanha para encontrar um suporto assassino de cães pelo bairro. Mesmo que a senhora tenha sido mordida por um, quando criança, ainda assim ela deixava de lado o trauma e defendia a causa dos bichinhos.

Estava empenhada em desvendar quem jogava carne envenenada a quem tivesse quatro patas. Mais de dez cães tinham sido mortos em uma semana. As pessoas trancavam os pobrezinhos em casa, mas, de uma forma ou outra – e não se sabe como – eles apareciam mortos, assim mesmo, sem carne...

Aos 81 anos, ela entrava de casa em casa, liderando um grupo de 20 para explicar os fatos e dar dicas de como proteger os indefesos.

Mias de quinze dias de campanha, e os cães continuavam morrendo. Houve até uma intromissão no domingo, durante a missa, para que os cuidados fossem passados e as dicas seguidas. A boa velhinha, com a voz trêmula de dor e incompreensão, quase teve a voz falha, mas conseguiu, sob uma ovação ferrenha, ratificar a campanha.

E pela primeira vez na vida, ela não conseguiu êxito. Todos, exatos, todos os cães do bairro, exatos 30, estavam exterminados. Uma comoção generalizada. Em memórias de todos os dóceis amigos, houve uma passeata-procissão, com a santa e São Francisco de Assis liderando as canções.

Havia velas brancas nas mãos de todos. As lágrimas lavavam a dor e colocavam naquela mulher toda a bondade possível desse mundo.

E o relato termina aqui. Jamais saberemos quem matou os cães. E como o assassino conseguiu, mesmo com os bichinhos presos dentro de casa.

O fato curioso é que, coincidentemente, todas as casas visitadas, todas as famílias que abriram suas portas ao grupo e seguiram as orientações dele, tiveram suas crianças mortas. E que sirva de exemplo: todos deveriam amar os animais, todos, pois até aquela santa - que deveria odiar cães pelas lembranças do passado - os amava...

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