segunda-feira, 20 de maio de 2013

O CLITÓRIS E O GENUFLEXÓRIO

Diria Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra, clichê famoso entre os intelectuais. Poderia falar que os clichês são clichês porque são verdadeiros, mas a máxima de que o dicionário é o pai dos burros não passa de uma tremenda ignorância.

Dicionário é o pai dos sábios, porque burro é aquele que não sabe o significado de uma palavra e não o consulta.

E muitas vezes a ignorância se transforma em burrice e leva certas situações ao ridículo extremo.

Na década de 90, os Titãs lançam uma música chamada CLITÓRIS. Até aqui, sem incentivo a usar o dicionário, naquela época qualquer menino pré-adolescente daria uma aula a respeito.

O problema é que na letra aparecia uma palavra, GENUFLEXÓRIO, o que sim seria um convite a folhear as páginas de um Aurélio ou de um Houaiss. Porém a intuição acaba falando mais alto e berra o equívoco em alto e bom som.

O garoto, chamemo-lo assim, porque tinha 18 anos e, na santa ingenuidade de sua idade, colocou a cabeça para funcionar e conseguiu associar ambas as palavras. Deve ter sido numa noite quente, de insônia e com pensamentos além da Magda Cotrofe.

Sim, achou o máximo a banda paulistana ter usado essas palavras sinônimas. Um dos belos exemplos de como deixar o texto dinâmico, evitando ecos durante o teor. Claro, era isso que a mente tacanha e inexperiente do rapaz conseguiu formular.

E, muitas vezes, a ignorância acaba cobrando seu preço. Durante uma reunião de amigos, uma menina comentou por cima sobre uma consulta dela no ginecologista.

A autoafirmação e o gênio espirituoso do rapaz falaram mais alto e de pronto ele interrompe a conversa e pergunta:

- E tudo bem com seu genuflexório? – silêncio.

A menina perguntou por duas vezes. E por duas vezes ele também devolveu a pergunta. Silêncio. Ela indagou se ele sabia o que estava falando. Ele sorriu e repetiu de modo enfático que dominava o assunto. Então ela foi cruel:

- Alguém traga um dicionário e o faça procurar o que é genuflexório.

Ele já sorria um sorriso amarelo de raiva. E pioraria quando um minidicionário deu o ar da graça:

- É com “g”, ok? Assim que encontrar, por favor, leia em voz alta.

E foi o que ele fez. Durante a leitura, viu-se uma voz miúda, envergonhada e levando-o para longe dali. Ao terminar a explicação, o grupo de lá veio abaixo, as gargalhadas o colocaram no umbral da vergonha.

Se você, leitor ou leitora, não sabe o que significa GENUFLEXÓRIO, deve dar um crédito ao rapaz, que também nunca associaria a palavra ao local onde as pessoas se ajoelham na igreja. Sim, aquela almofadinha colada na parte traseira dos bancos de lá.

Pois é, retomando o assunto sobre os clichês, o sábio Nelson Rodrigues – que deve ter usado muito dicionários - estaria reprovando o constrangimento pelo qual o rapaz passou , com certeza, e concluiria o relato, falando: “só se aprende pela dor”.

E depois disso, o pré-adulto teve a certeza de duas coisas: decididamente o dicionário é o pai dos sábios e é incomum alguém gozar ajoelhado.

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