terça-feira, 14 de maio de 2013

EU TAMBÉM QUERO!

Crescer com irmãos é uma experiência que nem todos podem ter. Existem lados positivos, existem lados negativos. No meu caso, foi mais bom que ruim. Posso dizer que as brigas eram naturais, mas a falta de respeito nunca aconteceu. Sem filosofar nem ser piegas ao extremo: crescer entre irmãos glutões é um problema e tanto.

Quem viveu isso sabe das disputas de vida e ou morte por aquela coxinha que sobrou do almoço. Lembro que nas refeições aos fins de semana, minha mãe sempre caprichava mais no menu. Não sei por quê, talvez por ser apenas fim de semana. Fato é que adorávamos, tanto que éramos os melhores incentivadores aos pratos.

O melhor disso tudo é que os gostos eram parecidos, todos gostavam da maioria das guloseimas que minha mãe sacava do fogão. Lembro também que, se houvesse um agrado a mais na mesa – pastéis, coxinhas, empadinhas – tudo o que fosse contável, o ritual era o mesmo:

- 3 para cada um!

Essa era a lei da sobrevivência. E quando se tem amor pela comida – e só quem ama sabe essas coisas – existem estratégias fenomenais para se conseguir algo a mais. Era comum, durante a tarde, enquanto um via TV outro estudava – nesse caso era sempre o Luciano – ou outro estava se deleitando com os LP’s, um dos Paciello escapar para cozinha.

O forno da minha mãe protegia as sobras do almoço, quando sobrava. O mesmo forno entregava o plano de um dos irmãos, quando abria sua porta, o agudo da mola fazia os demais pararem os afazeres e correrem para a cozinha na esperança de, ainda, conseguir um salgado qualquer.

Não me lembro de haver alguma briga, porque os glutões se respeitavam. Tirando o meu gêmeo, que só não está no céu porque o mundo precisa de seres iluminados por aqui, nem eu nem o Marcelo seríamos capazes de pensar no outro. Se a fome fosse forte e houvesse três pastéis seriam esses três pastéis que sumiriam em segundos.

A engenharia da sobrevivência me ajudou a elaborar coisas mirabolantes.

Meu pai não tinha o hábito de consumir salgados. Ele sempre os deixava para comê-los após o prato principal, acompanhado da cerveja. Foram vários fins de semana observando a cena. Quando, num deles, recusei a sobremesa. Enquanto meus irmãos se deleitavam com ela, percebia o titubeio do meu pai.

Hora de agir: “O senhor vai comer esse último pastel?”. Eu já sabia a resposta. E a quarta e mais saborosa iguaria era minha. Só minha. Meus irmãos perceberam e ficaram loucos. Cazzo, todos comeram 3 e por que eu poderia comer quatro?! Fato: a lei da gula.

Comum também – isso já éramos adultos – de regularmos a fome alheia. Marcelo já na faculdade, eu e o Luciano no ensino médio. O mais velho comia na volta. Lá pelas 23h. Minha mãe fazia aquelas maravilhas, sempre com fartura. Marcelo sempre foi bom garfo e se deleitava com aquilo só para ele. Era normal – mais eu que o Luciano – pedirmos que não exagerasse, afinal comeríamos aquele jantar no almoço do dia seguinte.

Foram incontáveis sorrisos, mas havia as lágrimas. Chegar faminto em casa, depois da aula e de um ônibus lotado, e ver abobrinha na mesa era de partir o coração de qualquer ser. Eu sentia um dó de mim quando isso acontecia...

Não sei por que resolvi desenvolver esse assunto.

Talvez porque hoje eu adore abobrinha e porque depois do almoço de Dia das Mães eu tenha deixado meus irmãos com meia torta maravilhosa só para eles.

Talvez porque eu tenha voltado quase meia-noite pra casa. Talvez porque eu tivesse com o pensamento fixo nela, durante todo o caminho de volta, e sorri ao abrir o forno e ainda restar um farto pedaço dela...    

 

 

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