
Quem
viveu isso sabe das disputas de vida e ou morte por aquela coxinha que sobrou
do almoço. Lembro que nas refeições aos fins de semana, minha mãe sempre
caprichava mais no menu. Não sei por quê, talvez por ser apenas fim de semana.
Fato é que adorávamos, tanto que éramos os melhores incentivadores aos pratos.
O
melhor disso tudo é que os gostos eram parecidos, todos gostavam da maioria das
guloseimas que minha mãe sacava do fogão. Lembro também que, se houvesse um
agrado a mais na mesa – pastéis, coxinhas, empadinhas – tudo o que fosse
contável, o ritual era o mesmo:
-
3 para cada um!
Essa
era a lei da sobrevivência. E quando se tem amor pela comida – e só quem ama
sabe essas coisas – existem estratégias fenomenais para se conseguir algo a
mais. Era comum, durante a tarde, enquanto um via TV outro estudava – nesse caso
era sempre o Luciano – ou outro estava se deleitando com os LP’s, um dos
Paciello escapar para cozinha.
O
forno da minha mãe protegia as sobras do almoço, quando sobrava. O mesmo forno
entregava o plano de um dos irmãos, quando abria sua porta, o agudo da mola
fazia os demais pararem os afazeres e correrem para a cozinha na esperança de,
ainda, conseguir um salgado qualquer.
Não
me lembro de haver alguma briga, porque os glutões se respeitavam. Tirando o meu
gêmeo, que só não está no céu porque o mundo precisa de seres iluminados por
aqui, nem eu nem o Marcelo seríamos capazes de pensar no outro. Se a fome fosse
forte e houvesse três pastéis seriam esses três pastéis que sumiriam em
segundos.
A
engenharia da sobrevivência me ajudou a elaborar coisas mirabolantes.
Meu
pai não tinha o hábito de consumir salgados. Ele sempre os deixava para
comê-los após o prato principal, acompanhado da cerveja. Foram vários fins de
semana observando a cena. Quando, num deles, recusei a sobremesa. Enquanto meus
irmãos se deleitavam com ela, percebia o titubeio do meu pai.
Hora
de agir: “O senhor vai comer esse último pastel?”. Eu já sabia a resposta. E a
quarta e mais saborosa iguaria era minha. Só minha. Meus irmãos perceberam e
ficaram loucos. Cazzo, todos comeram 3 e por que eu poderia comer quatro?!
Fato: a lei da gula.
Comum
também – isso já éramos adultos – de regularmos a fome alheia. Marcelo já na
faculdade, eu e o Luciano no ensino médio. O mais velho comia na volta. Lá pelas
23h. Minha mãe fazia aquelas maravilhas, sempre com fartura. Marcelo sempre foi
bom garfo e se deleitava com aquilo só para ele. Era normal – mais eu que o
Luciano – pedirmos que não exagerasse, afinal comeríamos aquele jantar no
almoço do dia seguinte.
Foram
incontáveis sorrisos, mas havia as lágrimas. Chegar faminto em casa, depois da
aula e de um ônibus lotado, e ver abobrinha na mesa era de partir o coração de
qualquer ser. Eu sentia um dó de mim quando isso acontecia...
Não
sei por que resolvi desenvolver esse assunto.
Talvez
porque hoje eu adore abobrinha e porque depois do almoço de Dia das Mães eu
tenha deixado meus irmãos com meia torta maravilhosa só para eles.
Talvez
porque eu tenha voltado quase meia-noite pra casa. Talvez porque eu tivesse com
o pensamento fixo nela, durante todo o caminho de volta, e sorri ao abrir o
forno e ainda restar um farto pedaço dela...
Esse relato me deu fome, Dri!!!! Bjs
ResponderExcluirDri, sabe que eu evito de ler também por causa disso! - rs
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