quinta-feira, 9 de maio de 2013

GIGANTES DA HISTÓRIA!

Sempre acreditei que as histórias são contadas pelos vencedores. Talvez por conveniência, talvez por algum final com uma mensagem moral profunda. E, mesmo sendo um final triste, ainda assim, vencedores.

O que se segue aqui pode ser apenas uma grande coincidência, mas como também prefiro falar que coincidência é o destino que perdeu a agenda, ou uma grande ironia - até o fim de relato devo realmente ressaltar que são os vencedores que narram os feitos.

Em 2002, comecei minha carreira como professor para concursos públicos. Lecionava já há 4 anos e devo realçar que foi um divisor de águas. Dar aulas a pessoas formadas, com nível superior, me aterrorizou. Quando entrei na sala, havia 90 alunos. Tremia dos pés à cabeça.

Na época, tinha os cabelos compridos e um cavanhaque perturbador. Havia um senhor na primeira fileira, de uns 56 anos, por aí. Ele me olhou de cima a baixo e, com um tom de desconfiança perguntou:

- É você o professor?

E esse mesmo senhor, assim que soou o sinal do intervalo, parou-me e me cumprimentou pela aula. Não, não foi esse fato que ratifica minha convicção. Mas o que se seguiria no dia seguinte. Conheci um senhor também, talvez com os mesmos 56 anos, na sala dos professores. Fiquei sabendo que ele fazia parte da mesma equipe do grupo novo que iniciava as atividades naquele cursinho.

Perguntei a ele se era comum esse tipo de análise, de preconceito contra professores novos entre os que estudavam para concursos públicos. Sabiamente ele sorriu e, de modo sereno, disse: "Bem-vindo ao mundo dos barnabés". 

Soube que fora ele quem iniciara as aulas em um curso que, por 11 anos, aprovou muitos à carreira pública. Fora ele quem dera a primeira aula à primeira turma. O chefe o chamava de gigante. E gigante era pela serenidade e experiência. Aprendi muito com esse senhor. Ele vinha de Campinas e passava o dia todo em São Paulo. Voltava tarde para lá e, de manhã, bem cedo, no dia seguinte - estava aqui.

Como havia várias turmas, era comum que eu passasse o dia com ele e, sempre nos intervalos, falávamos de tudo. Muitos sábados ficávamos com aulas, vésperas de feriados, então, foram várias. Eu o deixava na rodoviária e, no dia seguinte, aparecia com o mesmo sorriso, a mesma energia.

Professor de Contabilidade. Metódico, disciplinado e com uma energia invejável. Impossível subir as ladeiras até o metrô acompanhando os passos dele. Realmente a sua grandeza se fazia presente ali também. 

O que realmente gostaria de dizer não é apenas sobre o exemplo de dedicação dele. O exemplo de disciplina, o exemplo de profissionalismo. Isso tudo fala por si só. O que gostaria mesmo de realçar é que, 11 anos depois, esse curso não existirá mais. Depois de histórias e muita amizade - nunca trabalhei em um local em que as pessoas verdadeiramente se amavam - em junho de 2013, as atividades se encerram e abrem outras oportunidades.

Onde entram os vencedores? Dia 16 de setembro de 2002, esse gigante dá o primeiro "bom dia" à primeira turma. Dia 29 de maio de 2013, esse mesmo gigante falará "boa noite" à última turma. Se há poesia nisso, eu não sei, só sei que ninguém melhor representaria tudo o que os professores da SIGA fizeram nesses anos todos.

Ao senhor, professor Paulino, obrigado, e boa viagem a Campinas. E descanse bem, porque as aulas em junho começam mais cedo...

P.S.: Barnabé é um termo a quem é concursado!

5 comentários:

  1. Dri, adorei sua homenagem! Por acaso conheci este professor? (creio que não)
    Vencedores....gigantes....eles marcam a nossa vida de uma maneira surpreendente e muitas vezes até engraçada.
    Por exemplo, enquanto lia seu texto hoje, deparei-me com a seguinte dúvida: no trecho "Dar aulas a pessoas formadas, com nível superior, me aterrorizou"...fiquei me perguntando se as palavras "com nível superior" seriam "atrativas", caso contrário estaria incorreta, certo?! Meu professor disse que jamais se inicia uma oração com próclise! rs
    Óbvio que vc escreveu corretamente, narrei esse devaneio apenas para que conheça as marcas que deixa...(porque essa "nóia" é da era pós- Adriano...kkk)
    Estudar no SIGA foi muito bom, não só pelo que aprendi, mas pelos amigos que fiz!
    Não virei um Barnabé, mas valeu a pena! rs
    Obrigada por tudo, professor!!!!
    Beijos =)
    (Não precisa publicar isso, apenas quis aproveitar o gancho para te agradecer também!)

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  2. Descanse em paz... E com um trocadilho de gosto duvidoso mas inescapável, digo "Que SIGA a vida!"

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  3. Meu PAI, um Gigante !
    Não apenas como professor, mas como homem, pai, ser humano... a quem tenho como herói e referência de vida ! Muitos foram os dias que não o via pela manhã, acordava e ele já havia saído para mais um dia de desafios e ensinamentos em SP. Às vezes o via à noite... mas quantas vezes, próximo às provas dos concursos, era praticamente impossível encontrá-lo... Mas eu sabia que ele estava bem, fazendo algo que é grande, como ele: ensinar ! Muito orgulho de meu Papy, como o chamo. Tanto orgulho que me inspiro nele para também seguir essa bela carreira, a docência ! Pai, Parabéns ! O senhor é um exemplo de dedicação, profissionalismo e competência ! Siga em frente !!! Novos desafios estão a surgir... afinal, só os Gigantes conseguem ver além das montanhas !
    Um beijo,
    Paty

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  4. SIGA, bons tempos...
    Como dizem por aí: "Só os fortes entenderão!"

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  5. SIGA, bons tempos...
    Como dizem por aí: "Só os fortes entenderão!" -rs

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