terça-feira, 21 de maio de 2013

40 ANOS DE ESPERA

Eram muito jovens e prometeram se amar para sempre. Porém, no meio do caminho, uma viagem o tira da cidade. As cartas acabam sendo o único elo entre os dois.

O emprego na capital proporcionou mais do que salário, proporcionou gente, situações e lugares. E nesse acaso, encontrou uma mulher linda, no exato momento que respondera à última carta.

A moça havia mandado mais três, sem sucesso. Desesperou-se, mas se apegou a se preservarem até quando pudessem.

E o rapaz namorou, noivou e se casou. Com o ótimo emprego, trouxe os pais para morar num bairro próximo. Talvez o inconsciente mandasse para que nunca mais voltasse a se encontrar com seu passado.

Nunca mais soube da promessa, nunca mais soube da menina.

No aniversário de 40 anos de casamento, a esposa perdeu o ar. Sentou-se depois da primeira valsa. E caiu durante a festa para nunca mais levantar. Um enfarto fulminante.

Filhos e netos choravam a morte daquela mulher exemplar.

Aos 65 anos, ainda jovem e elegante, viu-se só. 10 meses depois, e numa tarde de domingo cinza, remexendo a memória, lembrou-se da promessa e da moça, linda por sinal.

E aquele instinto de curiosidade acendeu-o de novo. Naquele mesmo dia, preparou a viagem de 3 horas para o seu passado.

Fazia sol, quando entrou naquela província. Nada quase havia mudado. Todos olhavam furtivamente ao belo carro preto, que contornou a praça da matriz e parou na primeira rua à esquerda.

O número era o mesmo, mas a casa estava mudada. Linda, com um jardim maravilhoso, o que ratificava a predileção dela por flores. Ele desceu, tocou a campainha e viu que aqueles olhos azuis estavam lá.

Ele sorriu e ela devolveu. Ele a beijou na mão, ela retribui o carinho. As juras de amor voltam, ele sorri e se prende a ela de novo. Ele a pede em casamento. Ela aceita com uma condição, para compensar os anos de espera: que seja na igreja da Matriz e que só voltassem a se ver no dia das núpcias.

Ele entende, sorri e prepara tudo. Não obteve a aprovação da família, que julgou a senhora oportunista, mesmo que ele tentasse explicar que nunca mais tinham se encontrado e fora ele quem a procurara.

Ele foi só à igreja, o motorista seria o único convidado. A igreja estava linda. Os sinos dobravam como nunca. Romantismo demais, mais de 40 anos de espera e o amor selava o compromisso dos dois.

Amigos de infância, pelo menos os que ainda viviam, estavam lá. Irmãs, primas, o local estava lotado. Ele entrou e se posicionou. O coral entoou a entrada da noiva, que apareceu de braço dado a um senhor, jovem demais para ser seu pai.

E se aproximaram, mas o par dela não a deu ao marido. O noivo estranhou. Ela beijou a bochecha do par, foi até o noivo, beijou-o na testa e pediu a microfone do padre, anunciando a renovação dos votos do casamento que aconteceu há 35 anos. E todos aplaudiram.

Então teve a certeza de que merecia tudo aquilo. Sorriu um sorriso amarelo, desejou felicidades aos noivos e saiu.

Enquanto voltava para casa, disse ao motorista que nem o mundo dos negócios conseguia ludibriar tanto quanto uma mulher ferida. Fato ratificado pela noiva sexagenária, que morreria virgem e tinha certeza de que, algum dia, a falta de semelhança com seu irmão gêmeo serviria para alguma coisa.



   

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