sexta-feira, 17 de maio de 2013

MADEIXAS & MAGAL

O simples fato de se ter um ídolo pode mudar a cabeça de uma pessoa. E aqui não entra intelecto, cultura, entra mesmo a química. E se descarta a idade do fã, amor não se mede pela idade, não se julga, amor apenas se sente. Não importa quem se ame, importa era que a  menina, loirinha, de olhos claros esbugalhados à vida e a tudo, quase teve um surto quando se deparou com o Sidney Magal.

Aquele cigano, amante latino, de quadril fácil e molejo solto, deixou a pimpolha de apenas 9 anos com algo a mais. Não que ela alcançasse o tamanho daquela emoção, que foi mudando ao longo da puberdade, fato é que a garota ficava vidrada e cantando tudo que saísse da boca daquele homem.

Ratificando a máxima do "amor não se explica, amor se vive", certa tarde estava a guria en frente ao TV, vendo um infantil qualquer. Quando apareceu um palhaço conversando com a câmera, dizendo: "Você, menininha de vestido azul" - ela quase teve outro surto. Era a cor da sua roupa. "Você, sim, você, feche os olhos e peça o mais lindo dos seus sonhos, que ele vai se realizar".

Num salto, ela travou as pálpebras vívidas e, como nunca, desejou conhecer de perto aquele deus latino. Sabia que seria possível, porque se aquele palhaço acertou a cor do vestido, tinha de falar sério sobre sonhos, porque com sonhos não se brinca, sonhos são o alimento da vida.

Os anos se passaram. Óbvio, os sonhos mudam, mas o amor pelo cantor continuava. Tudo bem que não era mais aquele amor amor. Mas ainda assim era amor. 

Mais de 30 anos depois, hoje, a sonhadora com seus quase 40 anos e o ídolo com seus quase 60 - não se colocavam na mesma intensidade nem em qualquer plano de prioridade que fosse. Porém a vida é apaixonante porque o bizarro existe.

Estavam a loira, profissional exemplar, de um intelecto soberbo, e seu marido numa festa de casamento. A música ao vivo não deixava convidado algum sentado. Serelepe, a menina mexia as madeixas Kerastase de um lado a outro.

Em determinado momento. O pai da noiva interrompeu a dança, foi ao microfone e convidou alguém ao palco. Parece que os aplausos e gritos vieram em seguida, antes mesmo de Sidney Magal pisar o local. Suor. Choro. Tremedeira. Pânico. Tudo aparecia numa onda quente e, ainda que frívola, mágica. 

O chão sumiu. Ninguém, muito menos o marido, sabia que o ídolo dos anos 70 agora fazia bicos em festas bacanas. Ninguém, muito menos o marido, sabia também da paixão, quase - repito - quase platônica da esposa por aquele amante latino.

E ele veio, rebolando um quadril enferrujado, mas os olhos negros eram os mesmos, bem como a voz rouca e grossa. A mulher deixou de ser mulher, passou a ser pré-adolescente. Aos poucos, enquanto todos dançavam e sorriam, foi se aproximando do palco. Lentamente. Olhando para ele, lentamente. Subindo as escadas laterais, lentamente. Chegando perto do ídolo, lentamente.

E a festa toda percebeu a movimentação. O artista percebeu a aproximação. Sorriu e recebeu outro de volta. Ela foi se aproximando. E, num claro e suave movimento, abraçou-o como criança. E permaneceu assim até a música acabar.

Todos aplaudiram a ação dela, até mesmo o marido. Dizem que ela saiu de lá sorrindo. Um sorriso ingênuo. Dizem que o Magal cantou mais duas músicas, porque o suor e a idade o impediram de mais. Dizem tantas coisas, que - muitas vezes - há quem creia nelas. Até que creia em palhaços e sonhos.

E naquele dia, depois de 30 anos e por três minutos, a menina se fez mulher e, com certeza, foi a melhor Sandra Rosa Madalena que Sidney Magal já encontrou nessa vida.

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