quinta-feira, 11 de julho de 2013

UMA NOVA MANHÃ!

E ele estava no meio da correria. Tinha acordado atrasado. Despertara quarenta minutos mais tarde que o previsto e lutava contra a água no banho. Não se lembrou de fazer a oração de proteção, pensava apenas em encontrar a roupa certa e sair.

Mal se barbeou, enquanto escovava os dentes, tentou pentear o cabelo, mas lembrou-se de que, ao colocar a blusa, o cabelo se desmancharia. Cuspiu a água e deixou a escova cair na privada. Xingou. O dia mal tinha amanhecido e ele já estava ensandecido.

Pegou a escova, secou-a na toalha, afinal havia ninguém por ali. Ao sair, bateu o dedão do pé no batente da porta, agachou-se de dor, o que atrasaria ainda mais sua ida ao trabalho. Fazia frio, ligou o rádio e, mancando, abriu todas as portas do guarda-roupas, pois a dor e a afobação eram tamanhas que o cegavam.

12 graus, 5h30. Noite ainda. Pegaria o metrô mais cheio se demorasse. Não encontrou as calças certas logo de cara, porque pensava em qual blusa usaria. Estava de cuecas e meias. Enquanto passava o desodorante, abriu a gaveta das camisetas. Se esquentasse, teria de usar uma boa, não encontrou uma boa. 

Tinha de encontrar a blusa certa, porque usaria uma camiseta ruim. O desodorante caiu. Ele pegou rapidamente, mas bateu a mão na cama. Xingou, além de mancar, agora a mão latejava. Encontrou as calças, encontrou a blusa. Precisava do perfume. Não achou, preferiu a manteiga de cacau, com o frio e a caminhada até o metrô, os lábios rachariam. Besuntou-se.

Saiu às pressas, mal sentiu o frio e, na esquina, lembrou-se da planilha e do pen drive. Xingou de novo. Teve de voltar. Mais dez minutos de atraso por conta disso. Mancava, a mão latejava, os olhos ardiam. 5h45. Rua de novo. 

Tudo doía agora. Dedo do pé, mão, olhos, cabeça. Xingou. Passos rápidos, mas nem tanto por causa da dor. Atravessou e viu um mendigo. Havia um cão, talvez tenha sentido inveja, porque dormiam juntos. E mais inveja ainda quando o cachorro percebeu que ele cruzava o caminho de ambos.

O bicho levantou-se e latiu, protegendo o dono, que não acordou. Seguiu em frente e olhou para trás, viu o cachorro se deitar de novo. Chegou à estação. 5h59. Subiu correndo as escadas e, ofegante, estava na plataforma. De cima olhou para o lado e viu a aurora mais linda da sua vida.

Tons róseos e um azul penetrante. Não havia nuvens, apenas a promessa de um dia lindo, de um novo amanhecer e de uma nova chance de sorrir. Então, ele parou e ficou por lá. Viu um dia novo. Viu uma nova vida. 6h15. Jogou a planilha e o pen drive lá de cima. Voltou para casa, mas sem antes deixar dois pães ao mendigo e ao cachorro, que, dessa vez, não latiu, e até lambeu-lhe a mão.




2 comentários:

  1. Um dos melhores do blog, parabéns man!

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    1. Mano, e que essa nova manhã não tarde a raiar em sua vida! Obrigado e forte abraço!

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