quarta-feira, 10 de julho de 2013

AFLUENTES BARRENTOS

Fato, mulheres, todas elas, nascem com um sentido a mais, para compensar o sentido fisiológico a menos. Laxantes, chás, simples, se nem Deus conseguiu dar a elas o dom do dois, o homem não seria capaz disso.

Nem a TPM chega perto de uma prisão de ventre. E parece que muitas têm uma perpétua, um tormento que as acompanha desde a infância. Em vez de darem panelinhas e pequenas cozinhas às meninas, deveriam dar laxantes já e perpetuarem o pinico até à puberdade.

Talvez as dançarinas do ventre usem isso não para seduzir os homens, senão o cocô. Sim, o mundo desconhece um país do oriente médio famoso pelos purgantes. Se nosso protagonista estivesse em qualquer país de lá, não teria passado pelo que vamos ler.

Paixão avassaladora, daquelas que o fogo gela perto dela, tão avassaladora que em menos de um mês o colocava todas as noites e manhãs com ela. Primeiros dias, tudo quente, forte, perfeito, mas algo corria diferente do normal. Quando namoraram, quase um ritual o café da manhã. Eles trabalhavam próximos, entravam no mesmo horário.

Entretanto o horário dela pareceu ter mudado. Ela não mais saía junto ao marido.  Sempre uma visita ao cliente, uma reunião em outro; sinceramente algo não cheirava bem, aliás nada cheirava, nem cheiro. A desconfiança do rapaz começava a perturbar a paz dos dois. A vergonha, um único banheiro pareciam ser menores que um improvável amante.

E como início de tudo sempre existem mais concessões do que tudo, ela cedeu e passou a coincidir os horários. E tudo travava, nem control, alt del para a coisa desandar. O motivo era simples, o intestino já não lhe era lá regular e a presença do homem em sua casa fazia-a ficar mais ressequida ainda. Tudo só saía quando ele saía na frente.

Concentração demais para os caminhos fluírem, para que a natureza deixasse a gravidade chamar, e ele atravancava o caminho, obstruía o percurso. Nada. Enfezada ao extremo, mau-humor, sem sexo, sem beijos. Ela não dizia, mas 10 dias sem pintar a porcelana punha tudo quase por água abaixo. Mamão, lacto-purga, Yakult, Activia, tudo e nada. Até aparecer um chá: Plan 30. Um saquinho e batata, quer dizer, privada. Ela tomou três. E o que poderia levar umas 24 horas para fazer efeito, levou 6. 10 dias para sair em 5 minutos.

Ele tinha de ir na frente, porque o Olodum tocaria forte naquela manhã. Uma reunião? Uma visita. Cazzo, por que não a verdade: uma baita caganeira. A vergonha era maior que as cólicas e os roncos intestinais. Mais pareciam uma corrida de Stock Car a toda. E ela não queria e ele pedindo e ela peidando. Sensação maravilhosa aquela, e todos sabemos que a flatulência é a profecia do bolo fecal. E ele dizia presente com força naquela manhã. Não havia como segurar.

Existem momentos que a força cede e a natureza faz a coisa fluir. Ele abriu a porta do box e antes que pudesse falar algo, viu uma mulher contorcida, só de calcinha branca, comparada agora a um vulcão em erupção, como se as lavas que eram expelidas não tivessem destino e escorressem pelas pernas bambas da mulher. Sim, ele viu algo inédito, duplamente inédito, intimidade demais, algo constrangedor. Ele que tanto esmerou a água da ducha quente percorrendo aquela pele, via agora uma gosma e seus vários afluentes a correr pelas pernas da mulher, que, morta de dor, alívio e de vergonha, urrava:

- Suma daqui!

E que cheiro era aquele? Dizem que o beijo é o termômetro de tudo, que o sexo é a intimidade permitida, mas depois daquele dia, os lábios que já beijaram tudo por ali não seriam mais capazes de fazer o mesmo caminho que as lavas barrentas.

A intimidade extrapolou os limites que qualquer pessoa poderia ultrapassar. Agora ela precisaria de alguém inédito, porque dividir a cama com um bidê, não mais estaria nos planos dela. E nesse relacionamento a semelhança entre a rapidez e a disenteria, ambos rápidos e dando em merda.

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