quinta-feira, 25 de julho de 2013

O LOBO E O CORDEIRO

Já havia passado tudo pela lábia e lábios dele, exceto uma freira. Sem fetiche ou aposta, a simples curiosidade em saber como seria bolinar um hábito já o deixava com aquele instinto de caçador.

Fato é que não desejou isso à toa, estava encantado com a freirinha que apareceu na igreja. Não que fosse devoto, mas o motorista, a pedido do chefe, foi levar algumas roupas arrecadadas para a campanha do agasalho e empolgou-se por agasalhar alguém também.

Estava descarregando as caixas de blusas, quando a viu. Linda, olhos penetrantes e negros, que sorriam um mistério quase explícito, quase constrangedor. Jurou ter visto um olhar mais prolongado. Por via das dúvidas, decidiu virar católico.

Mesmo que precisasse andar por 30 km, o que num domingo era quase nada. Lá estava ele, religiosamente, comungando mais do que hóstias, queria comungá-la também.

Foi no segundo mês, depois de risos e alguma conversa, que, durante o passar da sacolinha das oferendas, veio a ele um bilhete ousado e definitivo: “Depois da missa, dentro do confessionário”.

Era um sonho, deflorar uma freira naquele local? Não poderia ser algo mais clássico. Empolgou-se e deixou 50 reais na sacola. Êxtase. Percebeu que ela o olhava enquanto ele lia. Percebeu uma troca de cumplicidade, seria histórico.

A missa não terminava, o homem suava por todos os lados. Ansioso, tenso, excitado. Quando acabou, as pessoas não saíam. Ficou a ver todos os estágios da via sacra e sofrendo cada parada, cada minuto. Enfim a igreja se calou. Ela apareceu da sacristia. Sorriu um sorriso lascivo e apontou para o confessionário.

Do fundo, ele tropeçou em um dos bancos, mas não caiu. Apertou os passos e se encontrou com a moça em frente da cena. Entraram atabalhoados. Seria a primeira vez de ambos e seria inesquecível.

Beijaram-se. Agarraram-se. Atracaram-se. Por segundos, ele imaginou que era algo diferente demais para uma freira, igual demais para uma mulher vivida. E pioraria, quando, ao retirar o hábito, vira os mamilos com piercings e as duas tatuagens, uma nas costelas e outra na virilha.

Jurou estar num sonho, assim que recebeu o primeiro bofetão no rosto ou o primeiro arranhão nas costas e a primeira mordida nas coxas. Quase apagou com a chave de perna e julgou-a insana ao acender as velas e tentar queimá-lo no peito.

Conseguiu  num empurrão colocá-la do outro lado, foi o tempo suficiente para pegar as roupas e sumir de lá. Tropeçou em um dos bancos, mas não caiu. Ele teve tempo ainda de se benzer, com a certeza de ter visto o próprio diabo.

E ela, mais uma vez frustrada, constatou que os católicos não eram tão católicos assim. Não conseguiu realizar sua fantasia, perdera a aposta e teria de pagar, pela terceira vez consecutiva, a rodada de chope a todas as Carmelitas.

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