
Fato
é que não desejou isso à toa, estava encantado com a freirinha que apareceu na
igreja. Não que fosse devoto, mas o motorista, a pedido do chefe, foi levar
algumas roupas arrecadadas para a campanha do agasalho e empolgou-se por
agasalhar alguém também.
Estava
descarregando as caixas de blusas, quando a viu. Linda, olhos penetrantes e
negros, que sorriam um mistério quase explícito, quase constrangedor. Jurou ter
visto um olhar mais prolongado. Por via das dúvidas, decidiu virar católico.
Mesmo
que precisasse andar por 30 km, o que num domingo era quase nada. Lá estava
ele, religiosamente, comungando mais do que hóstias, queria comungá-la também.
Foi
no segundo mês, depois de risos e alguma conversa, que, durante o passar da sacolinha
das oferendas, veio a ele um bilhete ousado e definitivo: “Depois da missa,
dentro do confessionário”.
Era
um sonho, deflorar uma freira naquele local? Não poderia ser algo mais
clássico. Empolgou-se e deixou 50 reais na sacola. Êxtase. Percebeu que ela o
olhava enquanto ele lia. Percebeu uma troca de cumplicidade, seria histórico.
A
missa não terminava, o homem suava por todos os lados. Ansioso, tenso,
excitado. Quando acabou, as pessoas não saíam. Ficou a ver todos os estágios da
via sacra e sofrendo cada parada, cada minuto. Enfim a igreja se calou. Ela
apareceu da sacristia. Sorriu um sorriso lascivo e apontou para o
confessionário.
Do
fundo, ele tropeçou em um dos bancos, mas não caiu. Apertou os passos e se
encontrou com a moça em frente da cena. Entraram atabalhoados. Seria a primeira
vez de ambos e seria inesquecível.
Beijaram-se.
Agarraram-se. Atracaram-se. Por segundos, ele imaginou que era algo diferente
demais para uma freira, igual demais para uma mulher vivida. E pioraria, quando,
ao retirar o hábito, vira os mamilos com piercings e as duas tatuagens, uma nas
costelas e outra na virilha.
Jurou
estar num sonho, assim que recebeu o primeiro bofetão no rosto ou o primeiro
arranhão nas costas e a primeira mordida nas coxas. Quase apagou com a chave de
perna e julgou-a insana ao acender as velas e tentar queimá-lo no peito.
Conseguiu
num empurrão colocá-la do outro lado,
foi o tempo suficiente para pegar as roupas e sumir de lá. Tropeçou em um dos
bancos, mas não caiu. Ele teve tempo ainda de se benzer, com a certeza de ter
visto o próprio diabo.
E
ela, mais uma vez frustrada, constatou que os católicos não eram tão católicos
assim. Não conseguiu realizar sua fantasia, perdera a aposta e teria de pagar,
pela terceira vez consecutiva, a rodada de chope a todas as Carmelitas.
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