
Roupas
dele, coisas dele. Chegou ao ponto de amar uma camiseta, um sapato e ter de
esperar para que ela opinasse para que ele pudesse levar. E aqui nunca se
saberá se era por dependência ou pela paz. Ele sempre preferiu evitar
confrontos. E, uma vez confrontada, como toda pessoa mimada, o choque seria
iminente.
O
ponto máximo foi ela ter ficado louca quando disse não ter gostado de um livro
e ele sim, teimou a moça que o livro era ruim. Mas isso seria mexer demais com
o brio do rapaz, que amava o autor alemão. Só ele sabe o quão duro foi reverter
o bico.
Casaram
à moda dela. Tudo o que cabia a ela ou não foi de gosto dela. Os móveis da
casa, as cores da parede, as cortinas, quem iria visitá-los, quem não, os
convidados dos dois, as roupas que ele usaria, as refeições, os filmes, peças
de teatro. Não era uma missa, mas o “amém” estava lá a qualquer hora e dia.
Até
mesmo as posições na cama, quem começaria, como terminaria. E o homem deixou de
ser gente há meses. E, como uma bolha de ar na água, tudo uma hora se revela, e
o desgaste começou a aparecer. Não brigavam porque ele não queria. Ela pedia e
ele não atendia porque o combustível havia acabado.
Ela
decidiu uma terapia de casal, e foram os dois. E só ela falava, só ela expunha
e só ela estava certa. Até que o terapeuta pediu a opinião dele. Ele começou a
falar e ela o interrompeu.
E
aconteceu, de imediato, ele se virou à falante e soltou um “feche a merda da
sua boca” de modo tão natural, explosivo e raivoso, que ela se calou. O
terapeuta sorriu. O rapaz se levantou e a deixou ali, só. Ela se desesperou de
raiva, mimo e orgulho feridos.
Foi
para casa enfurecida. Determinada a colocar um ponto final naquela ousadia
dele. Foi humilhada e queria uma retratação. Quando abriu furiosamente a porta
do apartamento, ele estava calma e deleitosamente lendo um livro.
Ela
se aproximou de modo abrupto, puxou violentamente o livro da mão dele e exigiu:
-
Se for para agir assim nunca mais fale comigo!!!
E
é assim que se encerra a história de hoje. O divórcio foi pedido de um modo sereno,
por sms, seguindo, como sempre, os comandos dela.
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