sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O BINGO


Há semanas os policias investigavam uma suposta casa de bingo, escondida atrás de uma loja de produtos geriátricos naquele bairro de classe média de São Paulo. A denúncia foi feita, mas a intervenção não acontecia porque ainda não conseguiram descobrir por onde os jogadores entravam.
 
O entra-e-sai de velhinhos era uma rotina frequente, por motivos óbvios, mas nada mais do que isso. Quase 3 semanas e nada. Um dia, um dos agentes até tentou arriscar, teve de comprar fraldas geriátricas e ainda saiu com os sorrisos de todos de lá.
 
Para não levantar suspeitas, não questionou, olhou tudo ao redor, havia uma porta suspeita por ali, se houvesse realmente uma bingo escondido deveria estar depois daquela porta rosa.
 
Mais duas semanas e nada.
 
Havia outros casos na espera, então a hora de agir teria de ser naquele instante. Dois carros chegaram com um mandado, e a ação foi um tanto quanto truculenta, entraram berrando e o caixa, um senhor de 80 anos disse que podiam levar todo o dinheiro do caixa, mas que deixassem todos vivos.
 
O riso quase apareceu entre os 8 policiais por ali, que perceberam o aparelho contra a surdez em cima do balcão. Pediram para que o senhor o colocasse e, calmamente, um deles falou:
 
- Há uma denúncia de bingo aqui. O senhor poderia abrir aquela porta rosa para mim?
 
Quando o som é claro não há o que enganar:
 
- Sim, oficial, mas acho que há um engano...
 
- Saberemos assim que o senhor abrir!
 
A porta foi aberta e todos nas mesas - bem como os policiais - foram pegos de surpresa. O local estava forrado de velhinhos e velhinhas com seus óculos presos na ponta do nariz, preenchendo as cartelas com números.
 
- Polícia!
 
O idoso que cantava os números ficou mudo. Um dos policiais chegou até o velhinho do microfone e pediu pra chamar o responsável, que se apresentou em alto em bom som:
 
- Sou eu.
 
- Qual número??? - berrou uma lá detrás.
 
- O senhor está preso por jogo ilegal...
 
- Acho que o oficial comentou um engano.
 
Antes do "quer me ensinar como devo fazer meu serviço?", uma senhora que estava sentada próximo ao delegado puxou-o pelo casaco. Ele voltou-se a ela, que apontava à premiação: remédios e fraldas geriátricas. Sim.
 
Constrangimento. Constrangimento que foi logo esquecido quando o cantador convidou-os a uma rodada e houve uma salva de palmas quando o delegado, em dez minutos de jogo, gritou:
 
- Tchinquina!

 

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