segunda-feira, 14 de outubro de 2013

AS MÃOS NÃO MENTEM

Vida de cigano é assim, um artista rejeitado, alvo de preconceitos, mas há aqueles que admiram e se encantam com toda a magia que os cercam. E a tradição é passada de mãe a filha.

E a mãe sabia tudo das linhas das mãos. Sabia falar o que todos queriam ouvir. Era observadora. Se via aliança na mão direita, casamento próximo. Se a aliança estava na esquerda, relação estável. Se havia uma marca de uma aliança que pousou por lá: um breve recomeço.

E assim, ela conseguia levar tudo. Em janeiro no litoral norte de São Paulo, e em junho e julho, em Campos do Jordão. E foi na Suíça brasileira que estavam agora. A caçula, de apenas 6 anos, era promissora.

Além de herdar o DNA feminino, tinha o talento da mãe. Observadora, vendedora, encantadora. Seria a primeira tentativa de ganhar clientes. Os longos cabelos encaracolados e os olhos fundos e negros prenderiam facilmente qualquer um.

- Nada de doces ou chocolates. Leitura são 5 reais, das duas mãos, dez, entendeu?

Assim que concordou, misturou-se entre todos e se encantou com as botas de couro daquela mulher. A mãe vivia dizendo que quanto mais couro, mais dinheiro. Ela ficou alguns minutos olhando para aquela loira, que em breve viraria para a menininha.

E assim o fez. A garota sorriu um sorriso revigorante, convidativo. A garota fez um gesto de ler as mãos e pendeu o sorriso para a esquerda. A mulher caiu e a chamou. A pequena se aproximou sorrindo, tomou a mão da moça e fora certeira:

- Um grande amor na sua vida, um homem bom, que te ama, fiel. Um casamento em breve, vejo filhos saudáveis e uma caneca de chocolate quente na minha mão.

E todos caíram na gargalhada. A menina ganhava o mundo. E assim, além dos dez reais, teve a promissora caneca quente nas mãos. E pelo anel de brilhante da loira - entre um gole e outro de chocolate - gabou-se de ter feito a escolha certa. Mas isso só depois que a cliente havia retirado as luvas de couro.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário