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Rubens Sanches |
Existem histórias que de tão bizarras não parecem
ser verdadeiras. Mas o simples fato de a bizarrice ser intensa não poderia
ficar só para algumas pessoas. Anos 80, o menino havia ganhado um violão
antigo, som perfeito, da vizinha, com a promessa de bom uso.
O moleque, com seus 8 anos, era menor que o
instrumento, agarrou-se a ele de tal maneira que o levava a todos os lados. O
problema era óbvio e físico, se a formiga consegue carregar duas vezes ou mais
seu próprio peso, o garoto não conseguiria endossar tal proeza no seu
sobe-e-desce.
Saía por aí batendo o violão em todos os
batentes e paredes pela casa. Não pelo desleixo, mas pelo simples fato de
física. O pai, músico pretenso e dedicado nos 4 acordes que sabia de cor e
comovido pela situação, tinha de deixar ileso o instrumento e proibiu o moleque
de maltratá-lo daquele jeito.
Dessa forma, apenas com o consentimento dele,
o primogênito deveria brincar com as cordas. Quando podia, era o pai que o
pegava e tentava, inutilmente, tocar a introdução de Stairway to heaven – mas o som que saía de lá fazia o instrumento
berrar mais que as batidas que o menino dava com ele.
Atento, muito atento, o filho ficava ouvindo
aquela melodia linda ser horrivelmente interpretada pelo chefe e ficou
fascinado por ela. Adorava escutar a música vezes e vezes, mesmo que tivesse de
ver o esforçado pai suar a cada tentativa.
E como criança é criança, sem a monitoria
alheia, o moleque pegava o instrumento para devorá-lo, quase que diariamente. E
foi numa briga com a irmã que o mais velho foi entregue. A menina pôs a cabeça
do irmão numa bandeja dourada e entregou-a linda e sôfrega ao pai, que soube que
diariamente o violão era tocado pelas pequenas mãos do menino.
- E você faz o que com ele?
- Eu toco...
- Toca o quê?
- A música que você vem tentando tocar.
Não podia ser, o pai tinha que ouvir.
- Traga o violão aqui e me mostre.
E dessa vez ele veio com cuidado, porque a
música e o instrumento eram já o DNA do menino, que pôs o violão nas pernas e começou
a tocar uma das melodias mais lindas do universo. Não podia ser, mas era. A
bronca não veio, veio um milagre que se confirma até hoje, no estupendo músico
em que Rubens Sanches se tornou.
Existem histórias que de tão bizarras não parecem
ser verdadeiras. Mas o simples fato de a bizarrice ser intensa não poderia
ficar só para algumas pessoas. Que o mundo saiba mais quem é o guitarrista
virtuose, e que também saiba: até hoje o pai não conseguiu tocar o que
tentava há 30 anos.
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