segunda-feira, 21 de outubro de 2013

MILAGRES DO ROCK'N'ROLL

Rubens Sanches
Existem histórias que de tão bizarras não parecem ser verdadeiras. Mas o simples fato de a bizarrice ser intensa não poderia ficar só para algumas pessoas. Anos 80, o menino havia ganhado um violão antigo, som perfeito, da vizinha, com a promessa de bom uso.

O moleque, com seus 8 anos, era menor que o instrumento, agarrou-se a ele de tal maneira que o levava a todos os lados. O problema era óbvio e físico, se a formiga consegue carregar duas vezes ou mais seu próprio peso, o garoto não conseguiria endossar tal proeza no seu sobe-e-desce.

Saía por aí batendo o violão em todos os batentes e paredes pela casa. Não pelo desleixo, mas pelo simples fato de física. O pai, músico pretenso e dedicado nos 4 acordes que sabia de cor e comovido pela situação, tinha de deixar ileso o instrumento e proibiu o moleque de maltratá-lo daquele jeito.

Dessa forma, apenas com o consentimento dele, o primogênito deveria brincar com as cordas. Quando podia, era o pai que o pegava e tentava, inutilmente, tocar a introdução de Stairway to heaven – mas o som que saía de lá fazia o instrumento berrar mais que as batidas que o menino dava com ele.

Atento, muito atento, o filho ficava ouvindo aquela melodia linda ser horrivelmente interpretada pelo chefe e ficou fascinado por ela. Adorava escutar a música vezes e vezes, mesmo que tivesse de ver o esforçado pai suar a cada tentativa.

E como criança é criança, sem a monitoria alheia, o moleque pegava o instrumento para devorá-lo, quase que diariamente. E foi numa briga com a irmã que o mais velho foi entregue. A menina pôs a cabeça do irmão numa bandeja dourada e entregou-a linda e sôfrega ao pai, que soube que diariamente o violão era tocado pelas pequenas mãos do menino.

- E você faz o que com ele?

- Eu toco...

- Toca o quê?

- A música que você vem tentando tocar.

Não podia ser, o pai tinha que ouvir.

- Traga o violão aqui e me mostre.

E dessa vez ele veio com cuidado, porque a música e o instrumento eram já o DNA do menino, que pôs o violão nas pernas e começou a tocar uma das melodias mais lindas do universo. Não podia ser, mas era. A bronca não veio, veio um milagre que se confirma até hoje, no estupendo músico em que Rubens Sanches se tornou.

Existem histórias que de tão bizarras não parecem ser verdadeiras. Mas o simples fato de a bizarrice ser intensa não poderia ficar só para algumas pessoas. Que o mundo saiba mais quem é o guitarrista virtuose, e que também saiba: até hoje o pai não conseguiu tocar o que tentava há 30 anos.

 

 

 

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