sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A PROMESSA...

Muita coisa aconteceu desde a única visita do rapaz à Basilicata, Itália. Quando esteve por lá, ficou embasbacado com a região e mais ainda ao provar o Anglicino del Taburno, vinho encorpado, servido com uma bela peça de cabrito e batatas. Apaixonou-se pelos sabores. Quis porque quis levar uma garrafa da bebida, mas com a condição de ser consumido uma década depois, pois a suavidade e o sabor seriam como os daquele copo.

 Embriagado de amor, e isso basta para loucuras e comprovações irracionais, ele aceitou o desafio e trouxe para o Brasil, em 2003, parte daquela viagem maravilhosa e se desafiou a voltar a provar dez anos depois o mesmo sabor que marcou sua vida.

E o dia chegava. Naquele domingo, não pensou em mais nada a não ser abrir aquela garrafa empoeirada, acompanhada de um farto pedaço de queijo parmesão e pão italiano. sim, logo cedo, seria o desjejum mais delicioso nos últimos tempos.

Dispôs o queijo à direita, a faca à esquerda, o pão mais atrás, a taça no centro e o vinho na mão. Acompanhou delicadamente o levar até a mesa e sorriu ao vê-lo ali, finalmente, depois de exatos 3652 dias, Basilicata estaria entre seus lábios.

Pegou o saca-rolhas e, antes mesmo de encostar na garrafa, lembrou-se de todos os momentos que teve para beber e não o fez. Primeiro foi quando seu filho nasceu, um ano depois da viagem, estava prestes a abrir, mas preferiu manter a palavra.

6 meses depois, a conquista do campeonato inédito do seu time pedia também algo diferente. E ele viu e reviu os lances da final bebendo um porto mesmo. Ah, mas a promoção, 3 anos depois seria o motivo ideal. Nada, nem os 70% a mais no salário seduziram o rapaz.

E a vinda das gêmeas, as tão sonhadas gêmeas, dois anos mais tarde, coincidindo com a primeira apresentação do moleque na escola, a alegria era tão maravilhosa, tão especial, e era dezembro, tudo pedia um sabor diferente. Não.

Um ano depois, quando as meninas começaram a andar e a falar no mesmo dia seria o momento mágico para brindar tantas conquistas. E o carrão zero, um ano e meio mais tarde então... Quis esquecer as mágoas com a morte do pai, quando o amigo irmão o escutou chorando por horas, seis meses após o carro.

E já fazia um ano que, quase todos os dias teve vontade de beber para esquecer as brigas com a esposa. As ameaças de separação e finalmente o dia que ela levou o moleque de 9 e as gêmeas de quase 5 para casa dos sogros.

Fazia 4 meses que estava só naquele apartamento e finalmente poderia saborear aquele vinho. Mas ao abrir, ele pensou, ele olhou para tudo, escutou o silêncio pesado de sua vida. Levantou-se da mesa e levou tudo consigo. Ficou quieto tomando uma média com um chapeado na padaria, enquanto dois mendigos famintos devoravam tudo. A garrafa do Anglicino del Taburno foi quebrada e furou o pneu daquele Monza 85.

 

 

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