domingo, 23 de dezembro de 2012

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PARTE I


Maria suava mais pelo medo do que propriamente pelo ato em si. E se aquele que lhe trazia tanta dor não fosse o filho de Deus? A mãe não se importou quando chamou por José e viu o nada, ele nunca estivera ao lado dela mesmo, por que agora? Sara erguera a túnica úmida de Maria até descobrir toda a enorme barriga.

Se o filho seria iluminado, não queria dizer que o parto também o fosse, mesmo porque a má iluminação do local atrapalhava mãe e parteira, além dos curiosos, cerca de sete. Nada de anjos cantando ou qualquer outra distinção que merecesse um messias que vinha ao mundo.

E se a humildade tangia todos os passos que ele pudesse dar, então aqui não se carecia de se separar o bem do mal, a neutralidade, como Deus quis deixar o mundo para que a paz se mesclasse ao oposto e o vencesse aqui também se fazia presente.

Ninguém tinha como saber o que se passa na mente das mulheres no momento exato em que se tornam mães, talvez pelo único valor desta ocasião, ninguém pudesse sequer imaginar que a única vontade daquele momento para quem suava e sofria era pôr fim naquela tortura e naquelas incertezas. 

O homem vinha ao mundo da mesma forma que muitos vieram e viriam. Até então, quem nascia era uma dúvida, nascia uma interrogação que se modificava com o tempo, talvez o mesmo tempo em que se levava para aprender coisas, desenvolver o discernimento e formatar sensações, pensamentos e sentimentos.

Mas voltemos aos berros de Maria, que podia trazer ao mundo veias que nunca poderíamos imaginar que existiam. O que se sabe é que José agora estava na porta, apoiado ao batente, vendo que estava para ser pai, sabe-se lá pai de quem.

Sabia que o serviço era dele, porém não sabia se o que saía lhe pertencia. A rotina de cerca de 20 minutos seguia a ordem da força, do pano já úmido e trocado na testa de Maria, no apoio das mulheres a lhe segurar as mãos. Minutos angustiantes, um parto difícil.

José não mais olhava, perdera o interesse, estava lá apenas para mera formalidade, de costas, apenas escutava os fatos, pôs-se de cego, e só veria o que quereria ver, como sempre fez.

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