quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A ROSA, A LOUSA E UM LATIDO!

Faria apenas 4 anos, mas sabia que podia cuidar de um cãozinho. E como não é sempre que se faz 4 anos nessa vida, pediu para que a professora lhe ensinasse a escrever: “Eu quero um cachorro de aniversário”.

Treinou por quase três semanas ininterruptas e pediu que o segredo ficasse entre elas. Sempre gostava de merecer o presente, e teve a certeza de que se colocasse os pais a ver as letras saindo-lhe das mãos, seria atendida.

Levou a sério quando, sentada com o pai, vendo um medalhista no pódio, perguntou por que ele estava lá, “porque ele fez por merecer”. E se correr como um louco, coisa que ela fazia sempre, ele ganharia aquela medalha, uma frase, um pedido, se caprichasse nas borboletas, seria o suficiente para ganhar seu cachorro.

Tentou à exaustão escrever tal qual à letra firme da professora, mas a danada deveria merecer um zoológico inteiro. Comparou as frases e sempre se esquecia do traço em cima daquela letra barrigudinha.

Pediu à mãe que, quando faltassem 4 dias para o aniversário dela,  a lembrasse, pois havia um pedido a ser feito. E tudo foi realizado. Depois do jantar. Ela pegou a pequena lousa, firmou bem a mãozinha e escreveu na pior das caligrafias, porém na melhor das intenções.

A mãe teve de sair, porque não saberia explicar as lágrimas. O pai a abraçou fortemente e também teve de se conter, quando ouviu se a medalha dela seria um cachorro.

E então, o pai a sentou no chão e disse que daria primeiro a ela uma rosa. E ela tinha de plantar essa flor no jardim. E que, se em 4 dias a rosa continuasse viva, ela ganharia o cachorro. Disse que teria de dar água à flor, atenção, cuidados necessários para que não morresse. E só assim ela estaria pronta para cuidar de um amigo mais intenso.

E os três foram até o jardim. E a menina plantou a rosa e jogou as primeiras gotas de água. E nos próximos dias, ao menos por um período, ela fez o que o pai pediu. Saía para a escola e beijava a flor e pedia em silêncio para que ela não morresse. E quando voltava da escola, sorria ao vê-la firme e linda.

E dava outro beijo nela. E o ritual se repetiu por 4 dias. Na manhã do seu aniversário, ela correu para a janela e sorriu feliz ao saber que estava pronta.

Desceu na ponta dos pés e notou o movimento fora da casa. Ouviu as vozes dos pais e dos avós. Ouviu um latido e sorriu o sorriso mais luminoso desse mundo. Abriu a porta e o filhote veio voando em sua direção. E ela rolou com ele pelo chão e soube que aquele seria o melhor presente que teria na vida.

Um dia talvez entenda a lição daquilo tudo. Não foi a flor, não foi a frase ou até o seu amigo, foi ter a certeza de que sonhos se realizam porque realmente eles existem.   

 

 

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