
O
tramutulês chegou nos anos 60 por aqui e fez a América com suas especiarias,
queijos, frios, azeitonas e pães. Não casou, trouxe as seis irmãs para cá e
cuidou delas como filhas.
Tinha
16 sobrinhos e 5 sobrinhos netos. Palestrino, dedicou-se aos clientes e às
arquibancadas do Parque Antártica. Teve uma vida honesta e sem muitos
sobressaltos.
Gabava-se
de ser o primeiro a querer ser cremado na família e a não temer a morte. E
digamos que foi um breve resumo da vida desse homem, que passou os dias
juntando dinheiro para voltar ao país, que tanto ama.
E
depois de quase 50 anos, ele conseguia. Aos 79 anos, Carmelo conseguia dinheiro
suficiente para ir para Tramútula e por lá ficar e finalmente todos conheceriam
o coentro italiano.
Dizia
o tio que até a cor era diferente, porque quando se prefere algo, quando se ama
algo, tudo é diferente, mesmo sendo igual.
E
a italianada se reuniu em Cumbica e fez a zarzuela chorosa, exagerada. Digna de
recepção de banda de rock. E o aceno alegre de Carmelo selou sua missão no Brasil
e o colocou de volta aos temperos da velha bota.
Semanas
se passaram, e uma caixa com seis frascos chegavam da Europa. Quem os recebeu
foi a caçula, de 12 anos, que urrou dizendo que os “coentro italiano” tinham
chegado. E que o pirão daquele domingo seria à base de Tramútula.
A
parentada se reuniu para comer um prato típico brasileiro com o toque mágico de
Carmelo e suas especiarias exóticas.
Muita
música, muita festa. E aquela anchova com o pirão ficou única, realmente o tio
fora certeiro, aquele sabor era eterno.
Havia
apenas um detalhe naquele evento: crer que a carta que chegara junto aos frascos
com a palavra-chave “cremazione” poderia estragar o almoço era fato.
Então
que a notícia chegue depois da digestão.
Credo, Dri...rsrsrsrs
ResponderExcluirDri, sempre bom ler primeiro, né? - rs
ResponderExcluirCom certeza....rs
ExcluirLindo texto como tantos outros, e sempre aquele final inesperado! hahaha
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