sábado, 3 de novembro de 2012

ZÉ BELO, DONZELO

Pior que a perseguição na adolescência é a perseguição na fase pré-adulta, se é que isso acontece. O rapaz tinha 18 anos e de todos os meninos da rua, era o único, digamos, inexperiente nos campos da sedução.

Educado, inteligente e absurdamente tímido, José, vulgo Zé Belo, era uma lenda  e alvo de todos os de lá, especialmente do Ditão, que apesar da imponência no nome, era um comedor de 1,60. Filho único de uma mãe solteira desejada por todos, linda aos seus 42 anos, o moleque era o terror das meninas e do menino.

Fora ele quem o incomodava aos berros de “Zé Belo donzelo!”, era o causador das muitas horas ausentes do pudico, que sempre esperava todos sumirem para aparecer. Mas sempre o Ditão o surpreendia.

Nas festas, fazia questão de expor a virgindade alheia. E a turma o seguia, porque ninguém queria cair na boca do bairro. “Todos têm uma história ruim pra contar, donzelo, você nem isso!”. Pois é, a pressão nessa idade era imensa.

E não eram todos lobos como o comedor, talvez mais um ou dois, mas toda a carga negativa vinha em cima do José, devorador de livros, amante de poesia e consumidor voraz de Acnase.

Numa noite de verão, houve uma festa na casa da menina mais linda do bairro. E o metelão decidiu colaborar, contratando uma prostituta, que se faria de colegial e comeria o jovem de uma vez por todas.

Música lenta na garagem, meia luz, Keep Cooler e George Michael dominando o ambiente. Tudo armado, todos esperando que o donzelo aparecesse. Uma hora, duas horas, nada. A mãe havia dito que ele estava a caminho. Nada.

E a festa aconteceu sonsa, o contratante aproveitou e consumiu o produto e nada mais aconteceu. O menino não deu o ar da graça, mas deixou de ser donzelo naquela noite.

Dizem – talvez seja boato da vizinhança - que o sumiço do Ditão depois daquele dia tinha um motivo. Porque deixar de ter um donzelo no bairro não era ruim, pois outros mais haveriam de aparecer.
 
Mas fosse que assumisse o trono, ruim mesmo era saber que o próprio Zé Belo, ao menos por uma noite, tornou-se o padrasto do Ditão.  

2 comentários:

  1. Dri, curti essa história! Principalmente pelas lembranças...nem me lembrava mais da Keep Cooler...kkkk

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  2. Essa é para quem tem mais de 30, como eu tenho 22, tive de procurar no Google essa bebida! Tuduntssss - rs

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