quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TUDO BEM

Ambos vinham de um relacionamento conturbado. Traumatizados por brigas, desconfianças e desgastes. Ela ainda estava num litigioso complexo, o apartamento que pagou sozinha entrava na disputa.

Ele já teve mais sorte, mas ainda acordava durante a noite, carcomido pelas vezes que entrava de madrugada tropeçando nos copos que vinham em cada ombro, uma sombra etílica quase que interminável.

Juraram e se prometeram não terem compromissos. Na primeira noite, riram muito e viram que além de filmes franceses e de arte também sabiam tirar um sorriso do outro. Bom indicador aquele.

Não viram como se beijaram, mas sabiam que depois daquele beijo levavam o medo de tentar de novo. Seria ele um aproveitador? Seria ela uma alcoólatra? Torceram para ninguém mandar um bom-dia pela manhã, mas não souberam que o fez primeiro.

No segundo encontro, foram a um cinema e quando perceberam, só estavam os dois no bar da esquina sem perceberem que a torcida não era por mais uma bebida, mas pela conta.

Nesse meio tempo, o apartamento ficou com ela e ele só bebia café puro.

Sabiam que se acharam porque comungavam da mesma opinião. Sem compromissos, sem protocolos, sem família, nem primos, nem festas de família, nem almoços de Natal ou de Páscoa. Teriam o momento deles e, somente num comum acordo, estariam juntos, mesmo que a sociedade pedisse.

E assim funcionou até aquela noite, quando ela ficou sem bateria no meio da viagem de volta e ele esperou pelo torpedo dela a noite toda. Ela se desesperou e não pôde parar para avisar, e ele tenso porque a caixa postal o atendia.

E depois disso, naquele fim de semana, os seis estavam almoçando juntos, os pais e as mães nas futilidades e aliviados por todos existirem, enquanto ele deixava torrar um pouco o salmão e ela se espetava nos espinhos das rosas no belo arranjo da sala.


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