segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SABEDORIA JAPONESA E O ATESTADO PARAGUAIO

Trabalhei por 6 anos em uma empresa multinacional japonesa. Nossos chefes eram todos de lá. Falavam mal e porcamente o português e traziam consigo uma cultura um tanto inusitada aos padrões brasileiros.

Não sei se é comum no Japão, mas aqui, eles vinham com uma mesma camisa a semana toda (e você acha que eles trocavam a cueca?), tinham um pedaço de bambu, com o qual limpavam a orelha à vista de todos, sem falar no chinelinho, que colocavam durante o expediente.

Enfim, pequenas noções de higiene e comportamento um tanto incompatíveis aos diretores.

E a fama de inteligentes talvez tenha ficado na alfândega. Nos anos que permaneci por lá, colecionei cenas e comentários memoráveis. Separo aqui dois deles.

Um grupo de professoras argentinas estava no Brasil conhecendo a matriz. Quando isso acontecia, eles tinham até o cuidado de substituírem a camisa. E naquela tarde, quando elas chegaram no terceiro andar, onde a diretoria e todo o departamento pedagógico ficava, o meu chefe, rapidamente, com aquele sotaque me pergunta:

- Aduriano, Aduriano, Buenos Aires? É assim que fala?

O que se pode entender com isso, um grupo de Argentinas e Buenos Aires é tão lógico quanto um grupo de Australianos e Camberra. Confirmei a ele. E só depois pude presenciar a gafe. Depois de me cumprimentarem, chegaram ao Hiyasa-san, ele prontamente estendeu a mão e disse:

- Bem-vindas, Buenos Aires!

A capital da Argentina se transformou na saudação das 15h. Elas sorriram educadas e corri para rir no banheiro.

Mas o pior viria numa reunião anos depois. Não sei se é fato, mas pela fama deles, possivelmente. Havia 15 gerentes de todas as filiais brasileiras, mais os 10 diretores de São Paulo, numa tarde de janeiro absurdamente quente.

Havia um termômetro no andar. E quando este atingisse os 30 graus, os diretores permitiam que o ar fosse ligado. Cansamos de correr com o termômetro ao sol para refrescar o local o quanto antes. Enfim, dizem, dizem que nessa reunião, a sala estava derretendo, entretanto, por um problema sabe-se lá do quê, o ar-condicionado não funcionava.

Um dos diretores chamou o zelador do prédio e pediu que trouxesse quatro barras de gelo imensas (risos) e que as colocasse em cada canto da sala. E, caso não houvesse, ele mesmo autorizaria a compra de ventiladores, para trazerem a friagem para os poderosos. Silêncio...

Cremos somente naquilo que queremos, e a isso dou fé de coração aberto.

4 comentários:

  1. Vc foi ao banheiro rir?! Eu não teria agüentado tanto tempo!

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    1. Pois é, mas eu dependia disso para pagar meus estudos, o bom senso travoumeus dentes! - rs

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  2. Sabe, nem depois de tantos anos passados, tantas histórias vistas e revistas, eu consigo rir da mediocridade absurdamente explícita desses seres que tanto são louvados cá em nossas terras como "os mais inteligentes" do mundo. E olha que sou descendente desses seres, então posso falar, porque eu mesmo sou um M.A.E. =)
    Ótimo texto!

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  3. Mestre, obrigado! Só quem viveu aqueles anos - como eu e você - com seres tão "brilhantes" lê esse relato mais com nojo do que com humor!

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