terça-feira, 13 de novembro de 2012

MAFALDA SAFALDA

Uma pug preta, Mafalda de nome. Não se pode dizer que temos aqui um exemplo de obediência. Essa pequena diabinha brincalhona não traz o seu chinelo, some com ele.

Era comum bagunçar uma fileira imensa de cães caminhando juntos, como era comum devorar os doces de uma macumba na esquina. Cachorro grande, injeção, trovões ou os malditos fogos no fim de ano, Mafalda nada temia porque era curiosa, tudo poderia ser uma grande descoberta a ela.

E um dia ela se deparou com uma escada, com o embalo da caminhada, subiu os 20 degraus. E ao olhar pra baixo, não conseguiu acompanhar os passos do pai. Ficou lá em cima, desesperada, e percebeu que não mais só pelo colo e pela comida, chorava também por não saber descer escadas.

Até que um outro dia, ela e o pai foram a uma igreja - seria benta no dia de São Francisco de Assis - daquelas cuja escadaria nunca acaba. Como sempre, no embalo, ela subiu. E percebeu, viu-se num mundo acima das nuvens. E na hora olhou para cima e teve certeza de que estaria junto dele para descer. Foi quando ouviu um choro e não era o dela.

Uma criança estava lá embaixo, sentada, às lágrimas, sabe-se lá por qual motivo. Sentada no topo, os ouvidos fizeram Mafalda olhar para baixo. Olhou para o pai, olhou para a criança. Não titubeou, esqueceu-se de onde estava e partiu em disparada escadaria abaixo.

O pai mal teve tempo de se desesperar, quando parou a correria atrás dela na metade dos degraus. Havia algo mais encorajador a ela, a tristeza nunca poderia vencer. Mafalda correu até a criança, apoiou-se na perna da menininha e secou a lambidas todas as lágrimas que escorriam pela bochecha rosada.

O pai sorriu e a criança também, começou a gargalhar de cócegas. Nunca se soube qual foi o motivo que fez a criança chorar, mas todos naquela tarde viram qual foi o motivo que a fez sorrir.

Mafalda aprendeu a descer as escadas e talvez nem tenha percebido que conseguiu tal proeza, e deixou duas lições a todos: a primeira, que sempre haverá alguém para secar suas lágrimas; e a segunda, que ninguém consegue esconder um chinelo como ela.


12 comentários:

  1. Excelente! Meus olhos ficaram suados com seu texto.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, mano! Assim como os seus, os meus suam todas as vezes que ela me vem à mente!

    ResponderExcluir
  3. A Mafalda e a criança, que máximo! Muito além de um humano! Adorei!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lu, todos os cães são muito além de qualquer ser racional! Obrigado!

      Excluir
  4. Não conheci a Mafalda, mas cada vez que vc fala sobre ela, eu gosto mais e mais dela. Esse texto me emocionou também. Só quem ama os animais e convive com eles consegue perceber a nobreza dos seus gestos! ;)

    ResponderExcluir
  5. olá!...que bom que já consegue fala sobre ela...sinal de que a dor já diminuiu. A saudade, infelizmente, não passará.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pietra, saudade é uma dor doce! Mafalda sempre será meu coração!

      Excluir
  6. Que lindo! Adriano, quando eu crescer, quero ser igual a você! Beijos em seu coração!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Imagina, Ângela, você já é querida por todos, eu quero ser uma Ângela quando crescer! Beijo! Obrigado pelo apoio!

      Excluir
  7. Que texto mais lindo! *_*
    Queremos mais!

    ResponderExcluir