quarta-feira, 28 de novembro de 2012

AU REVOIR, BRASIL!

Já podia ter imaginado pelo clima daquela manhã, pelo olhar do diretor e pelos sorrisos forçados dos colegas. Assim que entrou na sala ampla, de mármore carrara na mesa, e viu os charutos sobre ela, sabia que a celebração era iminente.

Antes de ouvir, olhou para os olhos vívidos, aqueles que transpiram a ansiedade de uma boa notícia, daquelas que todos se matariam para falar. Anos naquela multinacional, anos lidando com pessoas e números, aprendeu a estar atento a qualquer movimento diferente.

Sentiu que valeu a pena abdicar de família, amigos. Que a dedicação ao MBA e às horas de negociações, ao inglês, ao francês e ao espanhol teria enfim um resultado justo. Viu passarem para dentro todos os diretores, o vice-presidente, e todos tinham o mesmo brilho nos olhares.

Nos poucos segundos que esperava pela notícia, lembrou-se de tudo. A dedicação em forma de sopro, de vento doce e da promessa de que tudo acabaria bem.

Que os emails de parabéns, de orgulho e de símbolo de empenho à empresa realmente eram verdadeiros e que o trabalho impecável poderia ser um símbolo de exemplo e de que a justiça prevalece.

Sentaram-se ao redor da mesa. Ele na ponta e todos os sorrisos como plateia. Não se sabe por quanto tempo durou, mas cada frase, cada parte, cada sílaba soava-lhe como música, um rufar de louros e um soprar de aplausos.

Despesas com o aluguel em Paris pagas por um ano, a filial francesa nas suas mãos, 150% de aumento no salário, 10 passagens anuais para o Brasil, um carro, um cartão-combustível ilimitado, participação nos lucros e uma governanta bilíngue para cuidar da casa.

Tentou segurar o choro, mas não conseguiu, e viu que emocionou a todos lá, até o poderoso. Abriram um champanhe e saíram para almoçar. Ganhou o dia livre para começar a organizar a mudança, que seria em 15 dias.

Chegou em casa. Olhou o vazio e só assim viu a realidade. Não tinha para quem ligar e dividir a notícia. Saiu rapidamente de lá porque soube que levaria todo aquele nada para França. C’est la vie...  



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