Ficou encantada a menina quando viu aquela roseira. Os olhos se encheram de vida ante tantas cores. Soltou-se da mãe e correu até elas, queria abraçá-las, beijá-las, queria vestir-se de rosas, cheirar como elas. E assim se entregou. Estava feliz, beijou, abraçou e vestiu-se de todas as pétalas possíveis, de todos os aromas possíveis, de todas as cores possíveis.
De repente, sentiu uma pontada no braço. Num ímpeto, com a fisgada e o susto, virou-se bruscamente e desta vez foi o rosto e a palma da mão, eram alguns espinhos a rasgar-lhe a carne. Ela se afastou contrariada e voltou até a mãe, emburrada. Perguntou-lhe por que ela não a avisara sobre aquilo. A mãe respondeu que avisou, mas que o encanto da filha era tanto que talvez não tenha escutado ou simplesmente não quisesse escutar.
A menina disse que prestaria mais atenção nas palavras da mãe, que disse que ainda assim seria escolha da filha qualquer decisão que tomasse. Então perguntou à garota se tudo aquilo tinha valido a pena. A menina, lambendo o arranhão, disse que sim. Foi a primeira lição que aprendera. Haveria outras roseiras e para algumas delas valeria a pena se entregar. Haveria outros espinhos e para alguns deles também valeria a pena se entregar.
Se nossas cicatrizes contam as histórias que passamos, os aromas que sentimos, as cores que vemos e as sensações que guardamos também. Não somos só que o se vê, porque nem tudo o que somos fica exposto.
Lindo texto, realmente não somos somente o que se pode ver!
ResponderExcluirMuito obrigado, Fernanda!
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