sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O DIA QUE PERDI MIL REAIS

Era comum palavras passarem pelos olhos do professor de português. As palavras estavam para ele como os dedos para as mãos. Enfadar-se virou rotina, como assistir ao mesmo filme medíocre ruim e torcer para melhorar no final.

E aquele concurso de redação, ao pé que seguia, premiaria o menos ridículo, e nem o mais otimista dos críticos tentaria algo, nem as mães dos autores trariam louros.

Entretanto milagres podem acontecer e foi o que aconteceu. A primeira linha daquele texto foi melhor que todas as que já haviam deixado para trás. Segunda, terceira, e o primeiro parágrafo iluminado.

Quando se deu conta, já tinha se ajeitado na cadeira e estava debruçado, comendo cada palavra e se deliciando com o carrossel. Não percebeu que sorria com um teor envolvente e raro.

Metade da redação e a campeã já aparecia. O dia estava ganho, a autora – cujo nome fora lido várias vezes – afinal de contas, talentos assim devem ser gravados imediatamente, ganhava seu primeiro fã.

E o professor torceu para que nada mudasse. A excelente qualidade daquela obra atendia prontamente ao desejo do corretor, que abria um largo sorriso a cada linha. Sim. Havia uma luz entre os cegos. Definitivo. Conclusão surpreendente, coerentemente sensacional.

Nota 10, com louvor.

Dia da premiação, mil reais à futura Nobel. A ovação veio quando os mestres de cerimônia leram a vencedora. Um texto empolgante. A moça subiu com todos em pé, aplaudindo, por quase dois minutos ininterruptos. Os corretores abraçaram a vencedora quase como um agradecimento, reverenciando a estrela.

Quando saía do local, uma amiga do trabalho sorria atônita, com um papel meio amassado. Estendeu-o a mim, dizendo “Parabéns pelo prêmio” – não entendi, era a redação vencedora, continuei sem entender, mas reli emocionado o trabalho da moça, e o mais engraçado que não era o nome dela que assinava o texto de seis meses atrás, era o meu.

 

 

Um comentário:

  1. HAHAHAHAHAHA!!!!!! Esses finais surpreendentes... seus lindos! Adoreeeeei!

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