quarta-feira, 21 de agosto de 2013

UMA TARDE COM O PASSADO...

Depois de vinte anos na metrópole, parte da família o convidou para rever algumas fotos, modernamente colocadas em Flash, numa espécie de saudosismo forçado. Afinal, era o único dos Barbosa que não casou ou perpetuou a espécie. 42 anos, um apartamento muito bem decorado, um saldo no banco confortável e duas viagens ao exterior por ano.
 
Chegou no bairro  a 9km do centro e foi recebido pelas tias e cercado pelos primos, que bebiam cerveja no copo americano e cheiravam a tremoço. Abraçou um por um, tinha um imenso carinho por eles. beijou os sobrinhos, que mal via, sentiu-se normal, nem em casa nem um estranho, normal.
 
Depois da feijoada gorda e suculenta da tia, regada a muito pagode, sentaram todos para a sessão lembrança, cerca de 200 fotos dos anos 70, 80. Uma espécie de retrospectiva. Fotos de todos os primos pequenos, em situações hilárias. Os pais, os tios, tias, avós etc.
 
Tudo ia muito bem e coberto de risadas, quando chegou a vez dele. Uma sequência espetacular de momentos únicos, emocionantes, que não voltam mais. Como quando estourou o Kichute na guia e quebrou o dedo. Ou quando viajaram para a Praia Grande e ele, enjoado, vomitou no carro, a foto dentro da Brasília ficou mais tempo exposta.
 
Ou ainda quando o churrasco na praia foi quebrado pela chuva e ele se abrigou debaixo de uma geladeira de isopor. Houve a época da adolescência, quando foram postos pra fora do cinema, onde entraram sem pagar. A foto foi da tia, que foi buscá-los no shopping.
 
E como não rir, quando o carro do tio quebrou a caminho do sítio e todos desceram pra empurrar e a lama tomou conta de todos, pior a ele, que caiu no esforço e ficou enlameado dos pés à cabeça. Essa também ficou por minutos na tela. Mas a campeã foi no casamento do primo mais velho, a recepção na casa da tia, nas mesas de ferro vermelho, com cajuzinhos e fios de ovos. O terno branco dele com a gravata crochê dos fins dos anos 80.
 
Uma tarde deliciosa, única. Despediu-se com a promessa de voltar mais vezes e dedicar mais tempo à família, que tanto fez parte de sua vida 30 anos atrás. Chegou em casa, tomou um banho, pôs AC/DC pra rolar . Acendeu a luz do abajur, debruçou na janela, de onde via a Paulista iluminada e quente.
 
Pegou o celular e um a um, primo por primo, tia por tia, foi apagando tais contatos, apagando seu passado, esquecendo que um dia fez parte daquilo tudo. E cantou em alto e bom som "For those about to rock, we salute you", enquanto mordia um suculento sanduíche de mortadela.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário