sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PREMONIÇÕES

Talvez tenha sido apenas uma fase, que - como toda fase - passaria. O moleque vinha sonhando com tesouros e mais tesouros. E, de repente, aquela ideia maluca de que poderia encontrar algo realmente valioso bem nos fundos da sua casa. Por que não? Ora, não eram os sonhos que serviam de avisos, não eram eles que serviam de trailer ao real?

tentou sondar a avó sobre alguma herança do avô dela, conseguiu nada. Tentou a mãe, mente fresca, informação melhor. Nada também. E os sonhos não paravam. O mesmo sonho, reincidente, sempre a mesma cena, ele e o fiel vira-lata cavavam muito e descobriam um baú, com pérolas, ouro, diamantes.

Era tanta riqueza que sabia muito bem o que faria: levaria o baú ao banco e mandaria trancafiá-lo para um futuro bem próximo. Naquela noite, depois do jantar, sondou o pai, quem sabe os homens da família fossem mais bem-informados. Tirou apenas um suspiro nada encorajador. E mais um sonho naquela madrugada.

No dia seguinte, estava decidido, depois do almoço, pegaria o Sansão e cavariam como no sonho, perto da laranjeira. Sabe-se lá como levantaria aquela pá antiga do avô, mas o faria de qualquer jeito.

Não titubeou, engoliu o bife e sumiu da cozinha. Pegou o cachorro e se enfiaram no quintal. Certificou-se de que a avó partiria para o crochê e calculou o tempo que os pais levariam para voltar. Com muita sorte, conseguiria achar o baú, escondê-lo e tapar o buraco. Como no sonho, chegou perto da árvore. Fechou os olhos e deixou a natureza agir.

Sansão não parava de latir e cavar, como no sonho, exatamente como no sonho. Foi o estopim para, do inexplicável, começar a cavar firme e tirar as camadas de terra. Tirava mais do que camadas dela, tirava força do sobrenatural.

Os dois não paravam. Sansão latia como um aviso. Suor, força, dores, mãos calejando, mãos latejando, braços doloridos, mãos sangrando até que a pá bateu em algo seco. Sim! Sim! Só podia ser. Exatamente como no sonho.

Era isso, era isso, sabia que podia confiar na sua intuição. Sansão não parava de latir, e o garoto começou a cavar em volta e revelou a tampa de madeira. Isso. Decididamente era um baú. O mesmo baú de sonhos passados. E, como em todos eles, lá estava o tesouro. Sim! O mesmo tesouro.

Mesmo sem forças, conseguiu puxar pela alça aquele presente. Arrastou-o para fora. Sabia o que tinha de fazer. Com o fim de suas forças, tacou a pá no cadeado que selava o baú. Três ou quatros pancadas e o cadeado cedeu. O baú estava aberto.

E, como no sonho, o tesouro se revelou. Sim! Era o mesmo tesouro! Ela sabia! Ele sabia! Queria gritar, queria pular, mas o tempo urgia. os pais logo voltariam, e o buraco precisava ser fechado. Não sabia se conseguiria. Mas, se no sonho, tudo era possível e agora se revelava, ele era capaz.

Começou a tampar o buraco, quando o sansão pulou em cima dele e começou a lambê-lo, aquela não era hora para cumprimentos. realmente, não era, mas o ônibus do colégio partiria sem ele se não se levantasse imediatamente...

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