terça-feira, 6 de agosto de 2013

QUE FAREI COM 5 REAIS?

Quando pegou o casaco e meteu a mão no bolso achando uma nota de cinco reais, poderia lá ter ficado feliz, preferiria que tivesse sido uma nota de cem, mas diria a sua avó que reclamar das oferendas da vida seria sinal de ingratidão, ainda que a nota fosse dele, decidiu então ficar indiferente.

Saiu para rua como de costume. Tomou seu café com pão na chapa como de costume. Não se lembrou dos cinco e lamentou, o lanche poderia ter saído de graça. Seguiu para o trabalho, pensou em pagar a condução com a nota, porém lembrou-se de que a viagem já tinha sido paga quando carregou o bilhete único.

Não lamentou tanto, até o fim do dia, faria bom uso daquela nota.

Não escondeu que poderia forçar um lanchinho rápido antes do almoço, uma barrinha de cereal ou até um chocolate, alguma gula que pudesse apenas para fazer valer aqueles cinco reais. Quando percebeu, já tinha aceitado as bolachas de água e sal que a colega de seção trouxera com o café a duas horas para 13h.

Pensou em usá-la no almoço, mas serviria de complemento aos quase 22 reais diários que deixava nos restaurantes da região. Assim não seria válido, mesmo que completasse a refeição, tinha de ser algo supérfluo.

Pensou num sorvete mais bem-elaborado de sobremesa, mas o restaurante já incluía fartas fatias de pudim de leite, preferiu o óbvio.

O dia passando, e aquela nota de 5 o incomodava. Talvez o lanchinho da tarde. Sim, um chocolate quente e um pedaço de bolo com a tia Maria da esquina, sobraria ainda um real. Porém o aniversariante do dia levou pedaços de bolo gelado, que, com guaraná, deixaria qualquer nota pra depois.

Esticou o caminho de volta com os amigos, que lhe pagaram a cerveja e a porção de calabresa. Foi só quando desceu do ônibus é que se lembrou dos cinco reais. Lamentou, mas passou em frente ao bar da esquina de casa e viu aquelas coxinhas lindas, gordurosas, imensas e irresistíveis.

Sorriu quando viu o preço e entendeu que era o destino final. Sem fome mesmo. Ora, aquilo não era pra refeição, aquilo era pra gula mesmo. Feliz em usar a nota, devorou o salgado em segundos.

Eram 3h da manhã, quando começou a vomitar e teve a certeza de que aquele bolo gelado da tarde não valeria nem 5 reais no boteco da esquina.

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