
Saiu
para rua como de costume. Tomou seu café com pão na chapa como de costume. Não
se lembrou dos cinco e lamentou, o lanche poderia ter saído de graça. Seguiu
para o trabalho, pensou em pagar a condução com a nota, porém lembrou-se de que
a viagem já tinha sido paga quando carregou o bilhete único.
Não
lamentou tanto, até o fim do dia, faria bom uso daquela nota.
Não
escondeu que poderia forçar um lanchinho rápido antes do almoço, uma barrinha
de cereal ou até um chocolate, alguma gula que pudesse apenas para fazer valer
aqueles cinco reais. Quando percebeu, já tinha aceitado as bolachas de água e
sal que a colega de seção trouxera com o café a duas horas para 13h.
Pensou
em usá-la no almoço, mas serviria de complemento aos quase 22 reais diários que
deixava nos restaurantes da região. Assim não seria válido, mesmo que
completasse a refeição, tinha de ser algo supérfluo.
Pensou num sorvete mais bem-elaborado de sobremesa, mas o restaurante já incluía fartas fatias de pudim de leite, preferiu o óbvio.
O
dia passando, e aquela nota de 5 o incomodava. Talvez o lanchinho da tarde.
Sim, um chocolate quente e um pedaço de bolo com a tia Maria da esquina,
sobraria ainda um real. Porém o aniversariante do dia levou pedaços de bolo
gelado, que, com guaraná, deixaria qualquer nota pra depois.
Esticou
o caminho de volta com os amigos, que lhe pagaram a cerveja e a porção de
calabresa. Foi só quando desceu do ônibus é que se lembrou dos cinco reais.
Lamentou, mas passou em frente ao bar da esquina de casa e viu aquelas coxinhas
lindas, gordurosas, imensas e irresistíveis.
Sorriu
quando viu o preço e entendeu que era o destino final. Sem fome mesmo. Ora,
aquilo não era pra refeição, aquilo era pra gula mesmo. Feliz em usar a nota,
devorou o salgado em segundos.
Eram
3h da manhã, quando começou a vomitar e teve a certeza de que aquele bolo
gelado da tarde não valeria nem 5 reais no boteco da esquina.
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