domingo, 11 de agosto de 2013

FELIZ DIA DOS PAIS

Fora o pai quem o ensinara a dar o primeiro nó no sapato. E todas as coisas da vida.  Em troca, o menino presenteou-o com uma gravata trazida da escola, feia que só, amarela, mas que o coroa a usava sempre aos domingos, durante a missa. E agora era o filho quem tomava conta do restaurante, sucesso do bairro, pensavam em até ampliar para mais um espaço.
 
Era pequeno quando via o cara sair ainda noite e escolher as melhores frutas e verduras. Passava no açougue, sabia o ponto certo das carnes e conhecia meio mundo da zona cerealista da cidade.
 
Queria tanto emendar os passos do velho que começou como o próprio: garçom. Tinha de aprender a respeitar o cliente e entender o que ele queria. Sabia os gostos de todos, chamavam-nos pelo nome e com sorriso: o diferencial da casa.
 
Não teve mais tempo desde que o pai adoeceu e o moleque assumiu o local há seis meses. Já havia 8 anos de casa, sabia tudo, conhecia tudo, não poderia estar em melhores mãos. Seguiu fielmente cada sombra deixada pelo pai nos últimos tempos e deu o toque da modernidade.
 
O quadro piorara, o velho já não mais respirava sozinho, os aparelhos levavam mais do que vida a ele, ainda davam ao homem forças para saber dos dias e principalmente dos negócios. As poucas palavras que conseguia juntar traziam carnes, clientes e satisfação.
 
O quarto do sobrado já não mais servia para o básico, e agora estava num quarto de hospital. Em duas semanas, o estado se agravara, e a UTI passou a limitar palavras, olhos e ações. Ele já não tinha tantas forças assim.
 
Naquele dia, durante as visitas, o médico pediu para que os parentes mais próximos estivessem por ali, porque talvez nada mais poderia ser feito. A mãe ligou para o empresário, que não atendeu ao chamado, pois recebia as encomendas nos fundos do restaurante.
 
Ela tentou mais duas vezes, na segunda, enquanto ele atendia, viu que um mendigo revirava as sobras do lixo. Pediu um instante à mãe e mandou que servissem um prato ao homem. O que aconteceu em seguida foi quase uma hecatombe. Viram o homem largar o telefone e correr para o carro.
 
O pai morrera e ele o tinha visto somente há dois dias.
 
Chorou de remorso e saudade por todos caminho. Chorou por tudo, mas principalmente por não ter estado naquele momento, porque fazia o que melhor aprendeu com o pai.
 
Sete dias depois, ajudou a mãe a doar todas as roupas do pai para uma instituição beneficente. talvez tenha sido uma forma de repassar a serventia que o velho sabia como ninguém. Respirou fundo, beijou a mãe e seguiu para o trabalho.
 
Dias depois, recebia os fornecedores nos fundos, bem como os pêsames. Quando uma funcionária o chamou. Era um senhor que gostaria de lhe falar. Ele pediu para que esperasse, e o homem assim o fez. Por quase vinte minutos, não quis água, sentar, apenas esperou.
 
Quando o rapaz entrou, o ansioso senhor sorriu um sorriso largo, abriu os braços e foi ao encontro do dono, que, estático, apenas aceitou a ação. O sorridente apertou bem forte e disse-lhe ao ouvido:
 
- Obrigado pela comida, estava ótima!
 
Óbvio que ele não se lembrou do mendigo, porém ele nem tentou saber o que aquela gravata amarela horrível fazia no pescoço daquele senhor. Talvez tenha sido coincidência. Ou talvez o pai tinha vindo dar o adeus que o filho tanto desejou.

2 comentários:

  1. Dri, gostei da história. É bonito e reconfortante pensar na segunda hipótese como sendo a verdadeira. Bjs

    ResponderExcluir
  2. Dri, e elas acontecem, de maneiras diferentes, mas acontecem! Obrigado!

    ResponderExcluir