quarta-feira, 24 de outubro de 2012

140 TONS DE BRANCO!

Anos de amizade, aprenderam a ver as rugas aparecerem juntas e não notaram. Quase como um ritual, pois relacionamentos longevos são o lado bom do protocolo. Eram adultos já quando trocaram a primeira conversa e pareciam os mesmos quando acabam de trocar a última palavra.

Mesmo que o aperto das mãos não fosse mais tão firme, afinal a artrose acostumou-se a vir junto com as bebidas, sempre quiseram eleger um local próprio para se fugir das esposas, dos casos, da família. Conseguiam por um tempo, mas nem todas as mesas resistiram, em 40 anos, foram 4 os santuários. E em todos eles, os garçons sabiam quais eram as bebidas, os dias, os pratos.

Entre palavras novas e velhas, as risadas, as dores e sussurros, mais do que cabelos caíam pelo caminho, não se podiam cair as estatísticas, as aventuras. E como todo velho acaba colocando numa vitrina os dias gloriosos, a qual apenas um voyer a frequenta, havia um shopping inteiro por aqui. Não se podia voltar, muito menos envelhecer sem histórias para contar. Manias e vontades de velhos não se discutem. Barulho.

Não podiam precisar quantas coisas fizeram ou quantas deixaram de fazer ou quantas ainda viriam. Como no dia em que um esqueceu a aliança no motel e o outro emprestou a própria enquanto fora buscar a original com a recepcionista.                            

E como não se sensibilizar com as sensíveis e milhares de sessões dos 3 Corleones e dos 6 Balboas. Ficaram mudos nos velórios dos pais. Viajaram muito ouvindo as mesmas músicas e contando as mesmas histórias. Defendiam as cagadas alheias e criticavam-se quando os holofotes se apagavam. Barulho. Gritos.

Poderiam seguir várias histórias aqui, mas não conseguiria terminar, porque o barulho cresce, os gritos aumentam e a molecada nos olha incrédula. Bem, não se podia voltar, muito menos envelhecer.

Manias e vontades de velhos não se discutem. Foi hilário ver as mãos enrugadas empurrar as pequeninas, tomar a destra do Neymar e seguir confiante. E o amigo ficou pra ver se o velhote aguentaria o pique até o meio-campo sem um enfarte iminente.

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