quarta-feira, 2 de julho de 2014

LEE MAJORS OU MICHAEL JACKSON? BERTINHO

Adalberto desde criança queria ser ator. Adorava atuar em frente ao espelho e imitar Gene Kelly aos parentes, mesmo que tivesse de mostrar fotos do americano para a família saber quem era a estrela.

De família humilde, filho de mecânico e de uma lavadeira, seus sonhos não poderiam esbarrar nas graxas do pai nem sumirem com as águas da mãe.

Não se dedicou aos estudos, o pouco tempo que sobrava depois de ajudar no mercado do senhor Antenor, ele se dedicava à dança. Fã ardoroso de Lee Majors, o protagonista de O HOMEM DE SEIS MILHÕES DE DÓLARES, adorava quebrar gravetos como o cara.

A convite da professora, ele via os episódios vidrado, mal tocava no suco de laranja. A cultura e a televisão o fascinavam e acabavam alimentando sua determinação e barriga.

Cresceu, fez duzentas peças no quintal de casa e duas na escola, mas teve de parar porque as notas eram baixas. Sua obsessão foi tamanha que, num esquema – desnecessária a burocracia aqui -, em meses, aos 18 anos, estava nos Estados Unidos.

Arranhava o inglês e passou a ser garçom em Los Angeles. Nos primeiros dias, descobriu um grupo amador de teatro, que atuava para crianças com câncer. Começou como grilo, e uma fala só, lindamente declamada como “It's a beautiful day, kids” – ninguém dizia isso como ele, ninguém.

Falante, simpático e obcecado - por um amigo de um cliente do bar, que conhecia o vizinho da prima de um conhecido do assistente de um diretor - soube que o novo clipe do Michael Jackson precisaria de dançarinos.

BEAT IT seria filmado em dois dias, os testes levariam uma semana, o dono, com a promessa de que Adalberto conseguiria, cobriu a sua ausência. E cá esperemos pelo resultado.

Era noite, quando o telefone do bar tocou. Ele servia duas cervejas, que foram ao chão com o berro da menina do caixa. “You’re in, you’re in, you got it, you got it!!!” – o bar veio abaixo e, por uma noite, ele foi Michael Jackson.

Duas noites sem aparecer pelas gravações, e a estrela estava de volta. A notícia correu pelos clientes, que trouxeram amigos, que triplicaram as vendas de bebidas e o caixa, que rendeu uma reforma mais tarde e um cargo de gerência ao brasileiro.

No dia de estreia do clipe, houve quem cobrasse entrada. Todos se espremiam para ver nos dois TV’s espalhados pelo bar onde estaria o garçom.

Entre os dançarinos e as ligeiras aparições, ele teve uma ideia magnífica. No fim do clipe, ele faz uma aceno à câmera, por dois segundos (4:55 e 4:57) - está de chapéu, à direita, e levanta a mão, dando um olá ao mundo - (se a curiosidade falar mais alto,veja o vídeo abaixo) o cucaracha esteve ao lado do rei do pop, que apertou sua mão, enquanto conversava com o diretor.

Não, Lee Majors não soube que seu maior fã esteve no clipe, mas aquela exibição e o próprio Bertinho - ao menos aos pais - valiam mais do que 6 milhões de dólares e eram mais talentosos que Gene Kelly.

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