segunda-feira, 28 de julho de 2014

AUMENTE QUE ISSO AÍ É ROCK'N'ROLL (clique no link abaixo e leia com rock'n'roll)

 No carro apenas o som do rádio e a respiração do casal. Ela olhando o nada, com uma pista martelando a sua mente e ele olhando o trânsito com nada além da pista. “Falo, não falo”, pensou. “Passo, não passo”, pensou. Quando ela viu que poderia falar e acabar com tudo, no momento da primeira vogal, o acorde daquele velho rock’n’n’roll entrou no carro e sentou ao lado dele, que, sem titubear, aumentou o volume, e começou a martelar o volante.

- Amor, será que você poderia abaixar o volume, porque...
- Amor, instante! Depois desse som...
- É que eu...
Agora ele entoava perfeitamente a primeira estrofe.
- Acho que o que eu tenho pra falar é...
-“Well gidy up gidy up and get away, we're goin' crazy and we're goin' today…”
- Amor, por favor…
- “Here we go, rockin’ all over the world”.

Hora da parte instrumental, momento excelente para ela abaixar o volume...
- Amor! Imagina! – aumentando o volume – Essa parte é ótima, ouça esses metais!
- Querido, será que eu poso falar???
- Mas, por Deus, espere esse som acabar, mais 2 minutos! – disse ritmando com a bateria os movimentos da cabeça.

 Mas ela não poderia esperar, tentou mais uma vez...
 - Por favor, será que você pode baixar esse...
 -“I'm gonna tell your mama what you're gonna do, so come on out with your dancing shoes…”.
           
 Então, tomada por uma insanidade previsível, ela berrou cinco mil decibéis mais alto que o volume 18 daquele som:
 - Abaixa a porra desse som!!!
 Ele, numa expressão aterrorizada e surpresa, obedeceu à ordem do dia, baixou tudo o que poderia e com aquele olhar de “espero que seja algo realmente importante, porque a última parte da música também é muito boa e, quando uma música é muito boa, deve-se prestar uma reverência a ela escutando-a até o final” disse:
 - Diga...

 Sentiu que era tudo ou nada, que deveria decidir sua vida antes da próxima curva e que tudo poderia depender da resposta que ele daria. Seria o silêncio até o destino final daquela viagem e o fim da viagem juntos ou o alívio para o resto de sua vida e sem mais delongas, emendou:
 - Aquele SP Eventos na fatura do cartão de crédito, você não me levou a nenhum motel nesses últimos meses! Como você pôde?! – já com lágrimas nos olhos

Ele parou incrédulo, olhou com aqueles olhos arregalados - que poderiam simbolizar desde um ultraje, até uma revelação ou até um “você me fez abaixar o volume para dizer isso?! E eu que pensei que fosse algo realmente importante, porque a última parte da música também é muito boa e, quando uma música é muito boa, deve-se prestar uma reverência a ela escutando-a até o final” – e disse:

- Emprestei o cartão para o Rubão, que estava caído de grana e precisava impressionar a menina...
- Como?! Como?! Você acha que eu acredito nisso?!
- Creia no que você quiser...
E voltou a aumentar o volume, mas a música já havia terminado. A curva já havia passado, assim como a música, mas as dúvidas ainda tocavam alguns acordes por lá. O silêncio se fez de novo e nenhuma outra música tocaria até o fim do trajeto.

Chegaram em casa. Ela quieta, ele também. Quando entraram, o pisca da secretária eletrônica piscando. Ela acionou as duas mensagens, uma da mãe e a outra do Rubão. Ela escutou chorando a última e se atirou nos braços dele pedindo desculpas. Acabaram a briga na cama. Minutos depois, ainda nus, ele no banheiro, ela na cama:

- Amor, posso dizer à mamãe que vamos almoçar lá amanhã?
- Claro!
- Vou ligar para ela então.
Pegou o telefone e acionou o redial.
- Alô?
- Quem fala?
- Rubens...

I'm gonna tell your mama what you're gonna do, so come on out with your dancing shoes…”.
   

           

           


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