sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O SABOR DA CONQUISTA

E voltava a criança feliz pelos doces que conseguiu angariando com o Halloween importado dos EUA. Carinha de anjo, vestido de bruxa e olhinhos ternos, precisou de poucas palavras para tal, a figura já derretia o coração dos moradores.

Não precisou de ninguém, ao pedir balas e afins à mãe, ouviu que deveria lutar por isso. Depois de umas horas inconformada, perguntou-se por que não. E decidiu seguir em frente. Pegou a fantasia de bruxa do último sábado, pintou os lábios de preto e seguiu em frente. 

Os olhinhos azuis brilhavam a cada conquista. Balas, chocolates, bolachas e outras iguarias que fariam qualquer abelha segui-la por dias, por meses, tanto foram os sucessos devolvidos ao talento nato da garota.

E agora a menina voltava com mais do que doces, antes de saborear cada guloseima, sentiu que o sabor da conquista vale mais do que qualquer chocolate. Já eram 17h, quando decidiu sentar na calçada e espalhar tudo e contabilizar cada troféu.

As balas coloridas, as bolachas recheadas e os chocolates brilhantes estavam por ali. Ela os organizou  por tipo e em fileiras. Foram 30 balas, três pacotes de bolachas e 10 tabletes de chocolate, sendo dois brancos.

Talvez tenham sido as cores, talvez tenham sido os cheiros, mas ela não percebeu que uma outra criança se aproximava. Tímida, pés sujos, sem água no corpo mas com ela na boca. Os olhinhos daquele menino de uns 4 anos no máximo eram de um hipnotismo só.

Mal se aproximava, talvez o medo o barrasse, talvez a fome o convidasse. Ele deve ter pensado "Nossa, um de cada já estaria bom". A menina deve ter pensado: "Há o suficiente para ambos".

Ele não podia se aproximar mais, porque a garota agora o olhava, sem expressão de medo ou de asco, muito menos de convite. Apenas olhava. Ele trazia aquele olhar  fácil que somente a fome é capaz de contornar.

Ela parou, baixou os olhos em tudo e recolheu de volta ao saco. Levantou-se e sorriu ao menino enquanto andava até ele, que recuou um dois passos antes de ficar mais próxima. Ele alcançava quase o queixo da menina. Ela parou, olhou-o de cima abaixo, sorriu de novo, ele sorriu de volta.

Minutos depois, ela chegava em casa. A mãe perguntara onde a menina estivera e orgulhou-se ao saber o que tinha feito.

A 300 metros de lá, uma campainha soou, a moradora abriu:

- Doce ou travessura?

A fantasia estava grande, mas ainda dava para ver os pés sujos...

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