segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

TRAIÇÃO?

Ninguém nasce assassino e todos são capazes de matar, clichê forte para iniciar a história de 3 pessoas. Não cabem aqui nomes, fato é que marido, esposa e o amante precisam apenas dos títulos para endossar uma velha e repetida narração envolvendo ciúmes, brigas, sonhos e tragédias.

4 anos de casamento e a rotina aparecia em todos os cômodos, era mais presente que o casal neles. Sentava à mesa, lia o jornal, assistia à novela, dormia entre ambos. Até mesmo na escrivaninha da arma ela já esteve, um suicídio seria ótimo, mas não seria o caso por enquanto.

Ele, profissional de vendas, ela, arquiteta com poucos projetos. Ao menos se o trabalho lhe fosse sombra, talvez a moça não teria se inscrito num curso de francês, não teria aprendido a falar “eu te amo” em outra língua, a mesma língua que o rapaz de 25 anos também aprendia a amar.

Formando da segunda faculdade, ainda tinha a pretensão de conseguir pagar uma conta de luz à mãe, viúva há anos do marido coronel.

Talvez tenha sido no primeiro dia ou até mesmo na segunda semana, quando aceitou o café depois da aula. Com a desculpa de retomar os verbos, eles passaram a se ver com frequência e se viram envolvidos, porque se viam mais que as duas vezes semanais.

Ele pegou na mão dela, ela não recuou, mesmo que a dele lhe tocasse a aliança. Um beijo de despedida no canto da boca, troca de mensagens durante a aula e um beijo fervoroso após isso. No dia seguinte, eles estavam entregues, ela como há tempos e ele como nunca.

A paixão e o perigo cresciam, porque projetos imaginários começaram a aparecer de repente. O celular vivia na bolsa e no silencioso, e as idas ao banheiro eram mais frequentes, sempre com o aparelho escondido.

Um mês, dois meses. Até que numa tarde de chuva, ele aparece de surpresa na casa dela. O marido num cliente do outro lado da cidade, porque ela falara que sairia também. E, pela intensidade dos pingos, ele demoraria mais que de costume. Ela não recuou, pelo contrário abriu mais do que as portas, e eles transaram em todos os cômodos, deixando a monotonia sem ambiente.

A chuva descia forte, e ambos estavam deitados na cama do casal. Com a paz reinando, o sono foi inevitável, e dormiram profundamente. Não escutaram a porta se abrir. Não ouviram os passos na escada. Não escutaram coisa alguma.

O marido entrou e viu os dois deitados, no mesmo instante em que a esposa acordava assustada e, ainda zonza e tensa, via que a moça já sem o sutiã deixava escapar um “puta que pariu” inconfundível pelo corredor. O rapaz não acordou e foi a vez de o marido recuar.

O divórcio foi amigável e, por precaução e segurança, ninguém quis ficar com a arma, mas a escrivaninha continua ali, ocupando o lugar da monotonia.   

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