quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

C'EST LA MERD

O casal recém-saído da adolescência. Ele, o mesmo irmão dos dois que riram na loja. Ela, criada sem pai, pela mãe, as tias e a avó. Se uma mulher pode provocar um tufão, imaginem que se pode ter quando 6 mulheres aparecem na sua vida. Naquele sábado à noite seria o dia em que a menina, a sobrinha e a neta preferida, levaria a razão do brilho daquele olhar para jantar. Mimada por todas e pelo namorado.

Mesmo que não quisesse, teve de aceitar o jantar regado à rabada e polenta. Pergunta: quem faz rabada e polenta para um namorado novo? E naquele dia, o cara acordou indisposto, disenteria iminente. Festa iminente. Desastre iminente. Como lançar o primeiro NÃO? E não era um não qualquer, seria um não desastroso mesmo, ou seja, o desastre não poderia ser pior. Poderia sim.

O mais engraçado é que anos depois isso tudo cai por terra. Sem chances, ele aceitou e, quando disse sim, abriu uma porta inesquecível na relação com as mulheres. Saber dizer não também é importante, entretanto mais importante é saber quando e como fazer isso. Tentou de tudo durante o dia, maçã, maisena com limão etc.

A falsa impressão de tudo estável seguiu por 3 horas sem nada. Foi recebido por todas no portão. Assediado, apalpado. E assim estava na mesa, com aquele cheiro aprazível de rabada. Engraçado, palavra sugestiva aqui: rabada. Não se lembra de quando aconteceu, mas aquela sensação estável cedeu, talvez mesmo antes da segunda garfada.

Havia um lavabo entre a sala e a cozinha, um lavabo com respiração forçada, aquela espécie de exaustor. A timidez seria maior, porque ir ao banheiro logo no início da relação é um tabu. Pois no início nenhum dos dois faz o um ou o dois. E tudo misturado. Tudo novo. 

E lá se foi. Fez o que tinha de fazer. Até se orgulhou da rapidez com que terminara. Mas o clichê do horror: não havia papel higiênico. Horror. Havia nada. Nem toalha, parecia que o local era tudo, menos um lavabo. Horror. E o nome dele invocado a todo instante. O que era invocado lá dentro era melhor não ser falado. Não havia bidê. Mas um lavabo dispõe de um lavatório. Sim. Havia um. Menos horror. A atitude talvez não tenha sido a melhor. A altura não era suficiente. Ele fez o improvável. Sentou-se. Sim. Sentou-se no lavatório. Talvez o que viera em seguida não seja surpresa.

A água escorrendo por debaixo da porta, logo após do estrondo imenso que aconteceu lá dentro. Além do rabo sujo, tinha os pés molhados e tinha de sair de novo para exibir a vergonha. Sim. Queria ser como o exterminador, se fosse feito de mercúrio líquido, esvair-se-ia pelo chão e se formaria do lado de fora. Melhor colocar um saco na cabeça e sair. O namoro não durou muito, mas aquela cena sim foi antológica.

A duras penas, ele teve de aprender uma forte e decisiva lição: os nãos também são importantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário