sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CRAQUE DA ÁLGEBRA

A sala dos professores sempre mostra uma espécie de confessionário. Seja para coisas boas, ruins, verdadeiras ou às vezes lendas. Cabe aqui sua leitura e bom senso para saber em qual avaliação a narração que seguirá vai se encaixar.

O cara era um gênio da matemática. Daqueles que os alunos adoram e temem ao mesmo tempo. Imenso em tamanho, didática e conhecimento, sempre era marcante vê-lo em sala.

Com seus quase 190 quilos, distribuídos em 1,80, o professor era uma figura pitoresca em tudo. Corria lenda de que, quando jovem, foi quase um jogador de futebol profissional. Mas, como as lendas entre professores eram muito latentes, a maioria preferia tomar como sátira.

E foi nesse embalo que os dias corriam e as aulas também. E num belo dia, houve quem decidiu colocar isso em xeque. Sem que ninguém soubesse, o moleque entrou na aula como uma bola na mala. E durante a explicação, no momento certo, colocaria tudo à prova.

Talvez tenha sido durante uma aula de álgebra:

- Professor, para o senhor isso é mais fácil que jogar futebol, né?

Embalados pelas histórias dele e de todos os professores, a sala riu junto com o mestre, que emendou:

- Futebol sempre é mais fácil que álgebra.

- Prove-nos!

E tirou a bola para aplausos de todos. Até quem dormia acordou, embalado pelo desafio.

- Dez embaixadas já me convenceriam.

O professor sorriu e falou:

- Embaixadas? Isso é pra amador. Jogue a bola aqui.

O moleque jogou, e a matada no peito, quase em câmera lenta e o domínio com o pé esquerdo já serviriam de prova. A sala inteira aplaudiu com urros e assobios. O matemático pediu a palavra:

- Vamos fazer um trato. Você vai ficar em pé e erguer a mão direita. Eu vou colocar, daqui, a bola na sua mão, mas não vale se mexer. Você ficará imóvel. Depois que eu fizer isso, você promete que vai gabaritar Matemática no vestibular.

- E se o senhor não conseguir?

O mestre sorriu e emendou:

- Eu venho na próxima aula só de sunga, então acho que todos estão torcendo para que eu não erre...

Mais aplausos e o desafio estava lançado. O moleque se levantou e fez o que o professor pediu. Silêncio e tensão.

Pela primeira vez na vida, ele foi orgulho na família, errou apenas uma questão de Matemática no vestibular e preferiu trocar o autógrafo do centroavante do time de coração na camiseta do clube pela assinatura do craque da álgebra na bola que pousou perfeita e caprichosamente em sua mão direita.


2 comentários:

  1. Com base na álgebra, foi descoberta a incógnita se o professor era mesmo bom de bola ou não!
    Mais um excelente texto (ou seria uma EXPRESSÃO?).

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    1. Obrigado, Nelson! Elogios vindos de vc são de encher a bola de qualquer professor!

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