quarta-feira, 25 de outubro de 2017

OS OLHOS CLAROS

Começou a ter sonhos premonitórios ainda criança. Foi quando não distinguia o imaginário do real. Só se deu conta da diferença aos 10, ao sonhar com o avô morto e um livro nas mãos e a cena se repetir na semana seguinte. 

Na adolescência, anteviu a gravidez de uma amiga e evitou dois acidentes dos seus pais. Tentava não se influenciar pelo óbvio, no entanto percebeu ser inútil. Era sonhar, era acontecer. E, desses desafios que surgem na vida, numa noite de verão, conseguiu ver os olhos claros da menina em seus braços, ela sorria o seu sorriso e isso o despertou.

Não estaria pronto, tinha acabado de alugar seu primeiro apartamento, tinha uma vida estável e com as rédeas firmes. Ela só poderia vir do encontro da noite seguinte. Ele não apareceu e deu um drible na obviedade e decidiu fazê-lo ao extremo. 

Logo depois, se viu de gravata em Paris e Paris era sua nova e última morada. Viajou ao Brasil numa manhã seguinte, porque viu que sua mãe não suportaria o câncer e brindou meses depois o restaurante do pai, um desejo de anos do velho.

Finalmente, aos 31, viu-se pronto para trazer a menina à vida. Havia encontrado uma italiana que andaria consigo até o fim dos dias. Sabia que o choro de uma criança seria iminente. Os anos se passavam e os dois ficavam somente entre eles e ficariam assim para sempre, porque às vezes os sonhos passam ou nem sempre podem ser realizados.
    

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