
E
naquele ano seria diferente. O casarão. Sim. Há tempos inabitado, há tempos
temido. Talvez os pequenos se cansaram dos doces e queiram algo mais
emocionante que balas e chocolates. E decidiram que a última visita seria no
casarão.
Imponente,
lindamente sinistro, diziam que uma família inteira tinha sido morta por um
maníaco. Ela ficava no fim da rua, à esquerda. Pais, vizinhos e todos do bairro
não se atreviam a passar por ela durante a noite. Evitavam ao máximo.
As
janelas cobertas por cortinas, a placa de vende-se
já gasta, as paredes tomadas por plantas, o jardim seco, colossal. Não fazia
parede com nenhuma outra, porém inegável ser a atração daquela rua, que tinha a
porta de entrada do local e uma dos fundos - na rua detrás.
Diziam
que barulhos estranhos ocorriam em noites de lua cheia, juntos a todos os
clichês de terror que fariam qualquer corvo que passasse por lá dizer: “nunca
mais”.
20h.
Luzes acesas os afastavam e se puseram em frente ao local. Silêncio. Teria sido
uma péssima ideia? Alguém desistiria? Todos estavam amedrontados, porém tinham
de entrar para a história daquela rua: os primeiros que enfrentariam os fantasmas
de verdade.
Entreolharam-se.
Ninguém bateu palmas, ninguém tocou a campainha, porque não havia campainha.
Uma pedra para certar a porta? Um “doce ou travessura” como convite? Mas
convite a quê? Receberiam ratos, cobras e todos os lobos a uivarem aos 4 cantos
o quão estúpidos eram aqueles meninos.
Estavam
estáticos. Não se moviam. Não falavam. Apenas olhavam aquilo de cima a baixo
procurando algum motivo pra correr ou para noticiar. Nada. Até o cão do grupo
não latia: sinal de que tudo estava normal.
Então
alguém decidiu agir. Um garoto pegou um bombom e atacou para dentro. Pelo
barulho, atingiu a porta. Escuro demais para ver onde caíra. Silêncio. Instantes
depois, o improvável: o mesmo bombom é arremessado de volta, mas para o lado
da casa.
O
suficiente para debandarem e conseguirem a história que queriam. Tinham a
melhor noite das bruxas do mundo, um contato direto com o bizarro e o
sobrenatural. Viraram notícia. Mesmo que poucos acreditassem, eles sabiam que só
eles viram aquele celofane vermelho parado ali no jardim seco.
E
como a história é contada pelos vencedores, pena o grupo que estava na outra
rua, nos fundos do casarão - e que teve a mesma ideia de atacar um doce – não
ter recebido nada em troca.