
Sabia que com ela seria igual, antes do
anoitecer ou numa tarde de outono, ele olharia fundo nos olhos dela e sentiria
que o melhor a fazer era seguir em frente e procurar novas conversas ou
aventuras.
Era uma tarde quente, ele a esperava perto de
uma esquina, debaixo de uma árvore, pisando a pouca sombra daquelas folhas.
Quando sentiu que dessa vez seria diferente. Sim. Não conseguiu explicar. Uma
espécie de alegria tenra e apaziguadora invadia-o por completo.
De repente, as sombras não precisavam mais
estar ali. Decidiu encarar a luz forte do sol, porque era de calor que ele precisava,
era luz que ele pedia, era de outra sombra ao lado da própria.
Percebeu que algo estava destoando do comum,
que o incomum reinava firme e decisivo. Viu música na barulheira da quadra a
distância, enxergou mais o colorido do céu e precisou os tons das buzinas.
De repente, ele soube que era ela, sim, ela.
Sempre soube que nunca sentiria isso e que, se sentisse, poderia ser o aviso do
eterno. Soube que poderia deitar a cabeça no ombro dela e ser para sempre. Soube
que aqueles olhos sorriam a cada minuto. Entendeu todas as dicas que ela passou
a ele sem tabelas ou divididas, vieram limpas e num campo macio.
Tentou ensaiar um pequeno discurso, soube que
um dia poderia usá-lo, mas nunca que fosse naquele dia, naquela tarde e com
ela. Sim, ela.
Relaxou e deixou que o improviso e o coração
falassem, porque, se pudesse cantar, era isso que deveria fazer.
O celular toca, era ela. Momento crucial, deveria
estar perto, ele atende. Ele sorri, ele a ouve, e ouve, e ouve, e ouve. O
sorriso se apaga. Ele guarda o celular no bolso. Entra na padaria e pede um
café sem açúcar. Ele o bebe como se nada houvesse. Paga e sai imponente depois
de tropeçar na própria sombra...
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