quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

UMA POSE PRA MAMÃE

Estava decidida a não tirar fotos da primeira apresentação de Natal do filho com o celular. Obcecada pela revista CARAS e todas as celebridades em fotos com os pequenos lindas e nítidas, obrigou o marido a comprar o que de mais moderna e nítida uma Canon poderia ser. Conseguiu uma T5i, pela barganha de 3.500 reais e se matriculou num curso, 3 meses antes.

Estava decidida a fazer todos os que conseguisse. Abriu mão da manicure duas vezes na semana, conseguiu ir ao cabeleireiro apenas uma vez a cada 7 dias. Dispensou as compras no shopping. Quer dizer, conseguiu fazê-las a cada 15 dias. Pilates, bronzeamento artificial e outras importâncias ficaram para trás. Ela tinha de testar a máquina e justificar o investimento.

A família duvidou, mas o amor pelo filho, bem, a vontade de fotografá-lo tal qual os filhos da Angélica e do Hulk era maior que tudo. Desafiada, anotou tudo que podia. Quebrou a unha por causa disso e não soube escrever Cartier Bresson, que jurava ser uma grife nova francesa. Dedicou-se em parques, em festinhas, com o poodle e lançou-se a júri nas redes sociais. 

E não é que a Sebastião Salgado não fez feio? Eram incontáveis os "são suas?" nos comentários. Orgulhosa, ainda que não se lembrasse de tudo, os cliques deixavam longe as imagens feitas em qualquer Iphone e soube, a 1 semana do evento, que conseguiria fazer inveja a qualquer mãe que tentasse ficar parelho a ela.

Dia da festinha. As crianças do maternal 1 seriam as últimas, porque a tradição de ver os pequenos fantasiados e imitando os passos da professora sempre roubaria qualquer apresentação. O menino de 3 anos estava na coxia. A mãe desfilava com a Canon, quase que uma credencial. E a moça começou a fazer alguns testes. Uma outra mãe conferiu a primeira foto e ficou boquiaberta. Felicidades! Felicidades!

Já imaginou pegar o moleque rapidamente e voar com ele para casa para postar cada movimento, cada gesto. Triunfou. Depois de quase intermináveis 60 minutos, finalmente a turminha de 10 alunos do maternal entrou. Lindos, de macacões vermelhos e gorros e bochechas rubros.

E a música começou e todos alinhados embalaram num sincronismo lindo. Clique. Todos estavam maravilhosos, mas o moleque realmente tinha talento e roubava a cena. Clique. Os aplausos entre um gesto e outro eram frequentes. Clique. Por minutos, todos esqueciam das dores, dos problemas e viam que a esperança ainda poderia prevalecer. Clique. Os sorrisos das crianças, o orgulho e emoção dos pais, nada escapava das lentes. Clique. Até o movimento final de agradecimento, fori uma doce eternidade e o teatro do colégio veio abaixo em assovios e ovações. Clique. Clique. Clique.

Naquela noite, as mães orgulhosas postaram as fotos de seus pimpolhos, cada qual a seu jeito, a seu modo. Entretanto, nossa Bresson não. Ela não conseguiu fazer uma foto, porque - ao ver os olhos do menino brilhando para ela - a única coisa que conseguiu fazer, depois de chorar a apresentação toda, foi tomar um sorvete de creme, talvez o mais saboroso até então. Clique.

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