terça-feira, 7 de junho de 2016

O LADRÃO DE CONTROLES REMOTOS

A paciência é a virtude mais desejada entre todas. Quem a tem, tem paz, tem amor, tem tudo. Uma pessoa pacienciosa é um milagre vivo. E por essas e outras que a morte não vem, a agressão se atrasa e a raiva não tem convite. Pois quis naquele dia que dona Joana, no auge dos seus 90 anos, teimasse em perder o controle do TV.

Virou, revirou, mexeu e remexeu. Nada. A casa estava vazia naquele sábado, apenas o genro a fazer algo aqui ou acolá, escutou lá debaixo a voz firme da sogra:

- Rivaldo?

- Sim, dona Joana.

- Você pegou meu controle remoto, devolva-o.

- Não, eu não peguei. Deve estar no seu quarto.

- Não está! Devolva-o!

- Não posso devolver algo que não peguei, procure direito!

- Além de ladrão está me chamando de esclerosada? Devolva-o!

- Não peguei coisa alguma da senhora e não a ofendi!

- Quero meu controle!

O homem subiu em três passos e entrou no quarto dela. Virou, revirou, mexeu e remexeu. Nada.

- Não está aqui, dona Joana.

- Eu sei que não e a esclerosada sou eu?! Devolva-o para mim!

De nada adiantaria o homem se defender. Entre pedidos e acusações, saiu como um louco à caça de um controle remoto qualquer. Não poderia ter sumido, porque ele não saía do quarto da senhora, que, entre impropérios e imprecações, amaldiçoava todas as gerações do pobre infeliz.

Quase quinze minutos de buscas e nada. O silêncio se fez. Ele desejou ter o problema solucionado e a encontrou no corredor.

- Tudo bem, dona Joana?

- Como posso estar bem? Não tem pão nessa casa!

Ótimo! O controle foi esquecido e bastava um pulo na padaria para tudo se acalmar. Decidiu sair rapidamente, não sem antes escutar outra vez: "Rivaldo, onde está meu controle?!". O homem pensou rápido. Subiu, trancou a porta do quarto para que o seu controle não fosse surrupiado, levou a chave consigo e seguiu à padaria.

Quando voltou, encontrou dona Joana sentada na sala, calma, quase num sono profundo. Ela o viu e sorriu. E assim que viu que ela sentava em cima do controle, ele não titubeou:

- Seu controle, dona Joana! A senhora encontrou!

- Que controle?

Rivaldo calaria a boca com os dois pães que trouxe e, antes que mordesse o primeiro...

- Nunca mais roube meu controle!

... teve a certeza de que, por essas e outras, a morte não vinha, a agressão se atrasava e a raiva não recebia convite.

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