terça-feira, 8 de março de 2016

MULHER MARAVILHA

Quando viu a colega de trabalho recebendo flores do noivo no trabalho, ela teve uma pontinha de inveja. Talvez a maturidade pudesse ser viável aqui, reconhecer que também amaria aquilo não foi indigno, mas verdadeiro. E percebeu que não importa o que se sinta, senão o peso que se coloca nesse sentimento.

Decidiu aliviar a carga da inveja e alimentar a do final feliz. Voltou para a mesa tentando não pensar que tivera somente relacionamentos frustrados, que uns tinham mais, porém valorizavam menos ou o inverso. Tentou imaginar um futuro melhor e, na hora do almoço, driblou os colegas, pegou seu ipod e decidiu esticar a calçada e fazer as unhas.

Empolgou-se e arrumou o cabelo. Comeu duas barrinhas e voltou para o trabalho. O comentário foi geral, havia um amor novo. Mais de dois anos de empresa, e era a primeira vez que se mostrava assim. Apareceram dois bombons em sua mesa, e, se bobear, até as flores da amiga murchavam um pouco.

A tarde passou sem maiores atropelos. Fuçaram nas redes sociais e nenhuma pista. Aquela produção toda deveria ter um propósito, mas quem era seria esse propósito. Na hora do café, duas até tentaram algo, nada conseguiram.

Na hora da saída, até espreitaram jurando que alguém apareceria. Não. Ela seguiu só até o carro e só seguiu até em casa.

Entrou, abriu a porta e escutou o silêncio que a recebia natural e timidamente. Ignorou a solidão. Ligou o som e abriu a geladeira. Abriu uma latinha de cerveja e dançou o máximo que seu fôlego conseguiu. Não ligou que o cabelo desmanchasse, esperou que a endorfina aparecesse.

Foi ao quarto. Despiu-se do modo mais provocante que sabia. Não se convenceu. Enxergou-se com  a lingerie preta. Virou de lado, as celulites não a atacaram. Passou a mão pela perna e sorriu com o tom do esmalte, acertou em algo.

O celular tocou: mensagem.

Ela correu, leu, sorriu e respondeu. De repente, não se sentiu mais sozinha. Em meia hora, o interfone toca. Ela manda a visita subir. A porta se abre, e se abraçam fortemente.

Há que se ter coragem para encarar a realidade, há que se ter força para admirar alguém, há que se ter carisma para servir de exemplo - tanto como para confessar que é duro receber flores de si mesma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário