terça-feira, 17 de novembro de 2015

AH, ESSAS MULHERES...

A angústia é o maior incentivo e o mais natural para a confissão. Quando o amigo percebeu que a voz lhe embargava, convidou-o para uma cerveja e deixou que tudo desinchasse. A consciência leve, ainda que não resolva a situação, ao menos desafoga o aperto e desacelera a perturbação.

Ele fora testemunha do começo daquele relacionamento promissor, nunca se largavam e juraram amor eterno. Era triste ouvir tudo aquilo. Não podia crer que se afastavam e que a única coisa que os unia eram as indiferenças. 

No segundo copo, soube que a mulher não olhava mais na cara do marido, que era comum reclamar e passar nos cantos balbuciando alguma imprecação. Que disse que o odiava na cara dele, sem medo nem respeito. Que - pode isso? - chegou a cuspir na sua cara. Incrédulo, o amigo se emocionou com as lágrimas daquele homenzarrão. 

Viu que o desânimo e a tristeza eram-lhe a sombra da realidade. Viu-o desabar, perder o brilho de anos atrás, o sorriso de uma vida toda e a autoestima que o precedia. Maldita. Odiou-a também, quando soube que no aniversário do amigo não seguiu o protocolo, sequer ficou por lá e passou a noite sabe-se lá onde, sabe-se lá com quem.

E acabou se emocionando ainda mais ao saber que o amigo não queria a separação, que dizia que o casamento era para sempre, que a vida fora ótima à união de ambos e não poderia virar o rosto à felicidade como tem virado há meses. Soluçando, revelou que, sempre que brigavam, ele lhe trazia flores, como um perdão, como redenção e ela teimava em jogá-las no lixo.

Nojenta. Vadia.

Horas depois, o amigo não permitiu que ele dirigisse. Levou-o de táxi e deixou-o em casa. Torceu para não encontrar aquela maldita, seria capaz de lhe dar um murro, porém, se o fizesse, teria de bater-lhe no olho esquerdo, porque o direito, dessa vez, havia fechado por inteiro, sem contar o nariz quebrado e as outras escoriações pelo corpo que, a essa altura, e pelas semanas que passaram, já deviam ter desaparecido...

5 comentários: