E
ele o fazia como ninguém. Desde a infância, o sorriso fácil e convidativo era
como uma bênção a quem dele cruzava o caminho. Angariava histórias e mais histórias.
Era o mais requisitado na faculdade de Economia, exemplo de notas e de fama.
Mal
saía, preferia o quarto, os livros às festas, e talvez isso fosse sua melhor
propaganda. Torpedos, curtidas e seguidores, quase um séquito de babões
invejosos.
Até
hoje, pelo que consta, nunca se apaixonou, mas perdera a conta de meninas que
beijou, das camas em que deitou e de todos os arrependimentos que colecionou. O
genro ideal, o filho ideal, o namorado ideal, o amante ideal.
Até
que uma mulher lhe cruzou os olhos e devolveu tudo o que sempre emanou. Em
cheio. Avassalador. Daquelas paixões que mais ferem que assopram. 10 anos mais
velha, não estava em redes sociais nem conhecia Wim Wenders, mas amava Chico.
Não
cabe aqui saber onde e de que forma, coube saber que começaram um
relacionamento. Ele sumiu. Ela apareceu, e todos a desaprovaram. Pais, amigos,
o mundo não poderia perdê-lo.
Recusou
o emprego na empresa do padrinho e foi ser estagiário anônimo. Largou a casa
dos pais, e foi morar nos 60m² do centro, honesto e sem cortinas. Enfrentou a
família porque sabia que ela – que agora ama cinema alemão – valia a pena.
Sozinha,
porém há meses, não mais, em São Paulo, sorria toda manhã quando acordada com
beijos nos olhos. Foram poucos os encontros no apartamento da zona sul, cujos
quadros sempre a ajudaram desviar a atenção dos olhos que a comiam.
O
menino, que agora era assistente, crescia longe e mais feliz ainda, porque
dizem que o amor faz isso.
A
promoção à chefia dela foi comemorada num jantar de 250 reais e com uma cortina
nova na sala, combinando com o primeiro TV de high definition, que ela teimava
em dizer que não se diferenciava do antigo de 20 polegadas e, por causa disso
também, ele a amava mais ainda.
Certa
noite, ela disse que morreria feliz daquele dia em diante, porque nunca sorriu
tanto e que levaria consigo cada segundo que esteve ao lado do homem mais
júnior da sua vida.
Dez
meses depois, foi o que aconteceu, o câncer no intestino foi fatal.
Hoje,
ele ainda continua no apartamento dela. Finalmente com o tapete de couro de que
ela tanto gostava. E não há uma só noite que ela não sorri a ele, e não há uma
só noite que ele chore pra ela.
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