Meu
irmão mais velho certa vez apareceu com o LP do Iron, The number of the beast - e minha vida se transformou por completo.
O
futebol da rua continuava a ser interessante, mas meus sonhos não mais
alcançavam as redes. Meu sonho agora virava o mundo numa corda de guitarra, num
acorde pesado e num solo interminável.
Como
era expressamente proibido pelo meu irmão de escutar os discos dele, tinha de
esperá-lo para colocar a agulha no vinil e meu show teria início.
Ele
fechava a porta da sala, intermitentemente aberta pelo meu pai, para abaixar o
volume – pegava o encarte e cantava junto às músicas.
Eu
rumava ao corrimão da escada, perfeitamente encaixado como uma guitarra e
solava junto com a canção – uma cena prévia do que anos mais tarde se
concretizaria conosco, só de que modo inverso.
Naquela
época, havia umas guitarras de brinquedo – coisa que nem o Luciano – meu clone –
com todas as economias dele poderia adquirir.
Apelei
à minha tia, que comprou duas, uma a cada gêmeo. Não preciso reforçar – quem já
conhece a fama de Torquemada da minha mãe – que dona Ignes quase me matou, mas
sobrevivi.
Montava
minha primeira banda, em 1983, o MORCEGO NEGRO, que por drogas e egos não
seguiu adiante. Enfim, aquilo era um brinquedo, tinha de galgar os passos de
Eddie Van Halen.
Até tentei redecorar minha guitarra com fita crepe e isolante, frustração. Naquela mesma época, vi um clipe do Queen e me encantei com o piano de Freddie Mercury.
Estava
decidido, eu queria um piano e seria o primeiro a introduzi-lo no mundo heavy
metal. E foi durante o jantar, aproveitando o início do ano, com o boletim
pintado de 10 – até em matemática – que fiz o pedido ao meu pai.
Ele
me olhou calmamente – como sempre fazia - sabia que a renda de assalariado jamais
lhe daria o luxo de comprar um piano e me introduziu ao mundo do rock’n’roll:
-
Filho, você tem de levar a música para onde você puder. E você não vai conseguir levar o piano a qualquer lugar. Vamos comprar um violão, daí a música irá com você aonde
você quiser levá-la.
Em
março de 1983, aquele amante de Ray Connif me levou ao Mappin da praça Ramos e
me deu um Giannini, com uma capa marrom horrível. Feliz da vida, dormi com ele.
Coincidentemente,
na minha primeira aula de violão, aprendi uma música do Roberto Carlos, Fé. E
mesmo que não fosse um hard rock, foi
o que me conduziu a persistir até hoje nos inúmeros shows que fiz... Cantando.
Seu pai foi sábio e pensou rápido ao dar a resposta. E vc levou à sério o conselho dele, afinal, a voz é um instrumento super versátil, desde que , é claro, não se esteja com faringite!
ResponderExcluirSim, fiquei meio frustrado quando não pude ter o piano, mas foi o violão que me introduziu a este mundo da música! Fê. faringite nunca mais! - rs
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