Posso
dizer, sem delongas ou pudor, que a arte de retardar uma ida ao banheiro acabou
se tornando numa titulação invejável. Poucos sabem os sintomas como eu. Poucos
sabem retardar a desova como eu.
Não
me orgulho disso, pelo contrário, tive de sofrer alucinações e calafrios que
fariam um sádico ficar roxo de raiva.
Dicas:
a primeira sensação é segurável, uma pequena concentração e uma respiração
ofegante eliminam a sensação de mal-estar. Num intervalo de uns 10 ou 15 minutos – sugiro que nesse ínterim, se você
não tem experiência, procure um banheiro – a sensação volta ainda mais forte.
Por
uns 5 minutos, o incômodo será insuportável, sugiro aqui que você desabotoe a
calça e triplique a respiração ofegante – prática que, num local com mais
pessoas, pode ser meio constrangedor. Mas ninguém nesse momento pensa em
constrangimento.
A
sensação passará se você for corajoso. Mas digo que a terceira é a derradeira.
Ninguém, nem o mais experiente dos homens, eu me incluo nisso, consegue segurar
a terceira. Porque o involuntário aparece, e, mesmo que você seja um Rambo, o
próprio organismo se encarregará de tudo.
Para
defender essa teoria, tive de passar, por inúmeras, incontáveis vezes os
momentos de suores frios e de tortura lancinante. No carro, cinema, no estádio,
no metrô, tenho histórias maravilhosas a respeito.
Tanto
que eu trazia comigo meu amigo “reforço”. Sim, um chumaço de papel higiênico,
porque nunca se sabe quando o inferno poderia bater à sua porta.
De
banheiro de rodoviária do interior a banheiro em reforma com baratas passando
pelo meu pé – detalhe, nessa hora, o barata pode ser do tamanho de um gato,
você a ignora por completo – coleciono sensações inesquecíveis e regozijantes.
Poderia
me expor, mas prefiro expor meu irmão mais velho. Sempre fui alvo dele e nesse
dia eu inverti o jogo. Indo a um sito em Guararema, interior de São Paulo. Pelo
caminho, a dor de barriga apareceu.
Implorei
a ele pra pararmos. E Marcelo sempre pirraçando. Indo devagar e rindo. Estava
desesperado, porque já me encaminhava para o estágio 3 – acho que todos
entenderam o que isso significava.
Quase
comendo o puta-que-pariu do fusca,
ele parou num pulgueiro de um bar. Voei com meu reforço e lembro de ver estrelas enquanto sentia o frescor do
alívio descendo pela minha cabeça e tomando conta de todas as partes do meu
corpo.
Pronto
para sair, ouvi o Marcelo bater à porta, implorando para entrar. Não sou
vingativo, mas fui vingativo. Mal mesmo. E comecei a enrolar. Os murros se
tornavam mais abruptos, enquanto ele berrava. Tapas, socos. Até que os pontapés
vieram avassaladores.
Sabia
que a lontra já devia ter colocado a cabeça pra fora e abri. O olhar sôfrego
dele era de dar pena. Talvez o fato de eu ter aberto a porta tenha trazido um
alívio repentino, e ele me perguntou se meu reforço poderia ajudá-lo.
Naquele
dia tive a certeza de que tinha de ensinar os 3 passos ao Marcelo, teríamos
chegado no sítio a tempo, e o dono do bar não teria um prejuízo pela porta
destruída.
...a lontra já devia ter posto a cabeça para fora..."!!!!!! RSRSRSRS meu Deus!!!
ResponderExcluirFê, tentei ser o mais shakespeareano possível! - rs
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