segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

OZZY E O PULÔVER DE LEMMY

Um exercício que venho tentando fazer é não julgar pessoas, situações. Confesso ser amador e louvo quem já esteja num patamar de louros. Fato é que se torna inevitável tal ação.

Dentre as várias pelas quais passei, uma me vem à mente por dois motivos, na forma de evento mesmo e no desfecho surpreendente.

Sou vocalista de uma banda de rock e leciono em cursinhos. Portanto minha voz é essencial para que ambas as atividades sejam, no mínimo, honestas. No início de 2010, desenvolvi uma faringite medonha.

Minha garganta só parava de doer quando eu engolia saliva. No mais, ardia como a chama do cão.

Em uma das três consultas que fiz para solucionar o problema, estava na sala de espera. Havia poucas pessoas, uma senhora, que fedia à avó, uma mãe e sua filha de 2 aninhos e um rapaz com aspecto de pastor.

Entre uma Caras e a Veja, prefiro meu celular.

Daí a pouco, IRON MAN, do Black Sabbath, invade o recinto. Entre o espanto da música associado às figuras que lá estavam, em questão de milésimos de segundos, jurei que a mãe sacaria do celular.

Mas não.

Dona Benta, depois de uns 10 segundos revirando a bolsa, tira o aparelho e, numa intimidade espantosa em atendê-lo – cala a voz do Ozzy e me deixa boquiaberto.

Não podia ser. Mas era. Aquele celular realmente era dela, porque se fosse do neto, com certeza ela se embananaria ao fazê-lo.

Confesso que fiquei observando a senhora enquanto falava. Não só pela falta de ação e pela surpresa da cena, mas ainda tentando entender todo o processo de associação e desfazer o meu julgamento.

- Adriano Paciello.

Depois da segunda vez, ouvi e entrei. Não foi dessa vez que o médico acertaria meu problema nem me lembro do rosto dele. Lembro apenas que tentava entender aquela cena de minutos atrás. Era como ver o Lemmy tricotando um pulôver.
Talvez tenha sido enquanto eu saía, porque me celular também tocou. Era Carmina Burana. Não quis atender ali.
Ao passar pela senhora, ela sorriu para mim e disse:

- Nossa, rapaz, com tantas tatuagens, e cara de rock'n'roll, nunca pensei que você amasse Carl Orff.

Ou seja, a ação de julgar é involuntária, venha de quem vier.

 
 

 

 

 

 

 


8 comentários:

  1. E somos juízes o tempo todo, muitas vezes até sem perceber. Também tento me policiar quanto a isso, mas como vc mesmo disse...é involuntário! rs

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  2. Ah! Estou esperando pela história de Joana...hahahaha (e isso vc nao precisa publicar, claro)

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  3. Muito bom mano! O que faz a vida ter graça é que a passamos nos surpreendendo, e isso é maravilhoso. Abração

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    1. Vini, e, se bobear, a senhora sabia tanto quanto você, a respeito de rock'n'roll! Abraço!

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