Todos
já simbolizaram algo por meses, anos, mas há os que levam consigo uma sina de
dor ou de luz, o que muda no trajeto é a intensidade disso tudo.
Trabalhava
o rapaz numa multinacional. A colega do setor tinha muitas afinidades, com
exceção do recalque. Sim, pessoas recalcadas trazem à luz o fel, a sofreguidão,
a amargura. Vêm andando pelo corredor derramando uma gosma fedorenta e
contagiosa.
E
ela era desse jeito. Reclamava pela manhã, no almoço, à tarde e no caminho de
volta. Colocava no mundo a culpa de tudo, trazia o holofote de vítima e com ele
se banhava.
Odiava
o mundo e, sem saber, odiava a si mesma, porque não movia o dedo para mudar,
mas para abrir mais a ferida.
E
o rapaz sorvendo aquilo em horário comercial. Ninguém escapava, chefe, o salário,
a moça do RH, a recepcionista, a família. Vocês conhecem o tipo, todos conhecem
o tipo.
Tomado
de azedume, o cara decidiu fazer por ela. Passou desesperadamente a procurar
uma saída que não o homicídio. Todos os domingos os classificados lhe passavam
nos olhos, ensandecido. Foram meses de procura.
Até
que encontrou algo promissor, perto da casa dela, com um salário acima. Na
segunda-feira, ele trouxe o anúncio a ela, que, imediatamente, entrou em
contato com o responsável. 4 dias depois, ela estava contratada.
Na
semana seguinte, não se podia imaginar quem pulava mais, se ela ou ele. Ambos se
livraram do ódio, do ranço, de tudo o que de mais pútrido o ser humano pudesse
sorver e expelir.
Alguns
meses depois, o telefone na mesa dele toca. Era a moça, finalmente um sinal de
vida, finalmente algo leve.
Mas
não, ela ligava ainda para reclamar do que viveu por lá e, o que é mais surpreendente,
para começar a destilar a discórdia sobre o novo emprego.
Pois
é, existem pessoas que nasceram atreladas a um sentimento. E hoje, 15 anos
depois, eu percebi que não deveria ter aberto as páginas dos classificados, eu
deveria ter apresentado meu primo encalhado à sua imagem e semelhança.
É como vc mesmo diz: trabalhar é ter de conviver com pessoas que não seriam suas amigas naturalmente.....
ResponderExcluirE não é, Fê?! Só por Deus, viu...
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