Daquele
dia em diante, sempre torcia para que ela aparecesse em seu caminho. Um mês de
sorrisos, foi encorajado pelos colegas a se declarar, mas não, preferiu algo
mais original: escrever para ela.
Na
primeira carta, colocou toda a admiração e clichês que se possa existir. E não
há como se deixar envolvido, nem que fosse pela curiosidade, por mais óbvio que
seja o conteúdo, ela cairia e caiu.
Não
estava presente quando a primeira foi posta na caixinha. Carta mesmo, com selo,
envelope, perfume e com uma caligrafia caprichada, de homem, mas legível.
Dia
sim, dia não, aquela rua estava em seu itinerário. Como desejou, na segunda
carta, estava a moça a sorrir quando o vira. Batata. Sempre soube que aquelas
aulas de português no ginásio serviriam para algo. Ela sorriu aquele sorriso
lindo e ele, todo corado, se dava de bandeja.
E
era um desafio e tanto. Dicionários, livros, filmes, tudo servia de motivo para
escrever. Depois de passada a limpo, borrifava um perfume da Boticário,
dividido em duas vezes no cartão do amigo, e pronto: amor no ar.
Terceira
carta, e a moça já o esperava no portão, com sorrisos e amores.E assim
desenrolou por dois meses quase. Quase 30 cartas depois, ele decidiu marcar um
encontro. No próximo sábado, estariam juntos. E óbvio que ela saberia o
remetente, mesmo que estivesse e branco, porém principalmente pela carta não
vir com o carimbo do correio.
E
ela estava mais radiante ainda quando recebeu a última antes do encontro. Ele
apenas sorria a ela e a menina devolvia um ainda mais largo.
Comprou
a melhor camiseta polo da loja. Barbeou-se no salão. Nunca tinha entrado
naquele café, mas o chefe disse que seria elegante se assim fosse. Encheu-se de
coragem e pensou faltar-lhe quando, da esquina, a viu entrar.
Esperou
cinco minutos, tomou ar e entrou. Ela não o vira. Ele sorriu. Ela levantou a
cabeça. Eles se olharam. Ele sorriu ainda mais. Ela olhou aos lados não sabendo
se era para ela. Ele se aproximou sorrindo. Ela teve a certeza de que ele vinha
em sua direção. Ele parou. Ela esboçou um sorriso. Ele esboçou um cumprimento:
-
Oi, boa tarde.
-
Boa tarde.
-
Surpresa?
Ela
sorriu e:
-
Eu não o conheço de algum lugar?
Calou
o sorriso e as esperanças. Claro que ela o conhecia, mas não ali, não sem
uniforme ou sem a carta. Então ele se desculpou, ela disse um tudo-bem simpático
enquanto acenava para a garçonete e pedia uma água sem gelo.
Ô coitado! Fiquei com dó dele.
ResponderExcluirE o uniforme era tudo o que ele poderia ser!
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